Considerando que os prefeitos
atuais acabaram com o Orçamento Participativo nos moldes que vinham dando certo
em Porto Alegre.
Futuramente, quando pretender
alguma melhoria na sua rua ou no seu bairro, faça requerimento a ele como
fizeram os dois poetas abaixo e veja se consegue alguma coisa.
Petitório
Vinicius de Moraes
O poeta Vinicius de Moraes, quando
morava em Itapoã, enviou petição rimada ao prefeito Cleriston Andrade, através
das páginas do jornal A Tarde, clamando:
Prefeito Cleriston
Andrade
A quem não
conheço,
quero tomar a
liberdade
que eu nem sequer
sei se mereço
de vir perdir-lhe,
em causa justa,
um obséquio que seu
favor
muito honraria (e
pouco custo)
ao Prefeito de
Salvador.
Existe ali no
principado
livre e autônomo
de Itapoã
uma ruazinha que
sem embargo
pertence a sua
jurisdição
uma rua não sem
poesia
e cujo título é
dar teto
a uma das glórias
da Bahia:
o governador
Calazans Neto.
Dizer do estado
desta ruela
(das Amoreiras) eu
não arrisco
porque sem
esgotos, correm nela
rios de * valha-me
o asterisco.
E isso é uma pena,
Senhor Prefeito,
pois Calazans e
sua gravura
têm cada dia mais
procura
de fato como de
direito:
o que constrange
os visitantes
com boa margem de
estrangeiros
é, entre gravuras
fascinantes,
ver quadros nada
lisonjeiros.
Calce essa rua,
Senhor Alcaide,
e eu lhe garanto
que algum dia
“pro domo sua”,
esta cidade
o há de lembrar
com mais valia.
Na expectativa de que acorde
um novo “cumpra-se
sem mais”
aqui se assina,
muito ex-corde,
seu Vinicius de
Moraes.
Carta-Poema
Manuel Bandeira
Excelentíssimo
Prefeito
Senhor
Hildebrando de Góis,
Permiti
que, rendido o preito
A
que fazeis jus por quem sois,
Um
poeta já sexagenário ,
Que
não tem outra aspiração
Senão
viver de seu salário
Na
sua limpa solidão,
Peça
vistoria e visita
A
este pátio para onde dá
O
apartamento que ele habita
No
Castelo há dois anos já.
É
um pátio, mas é via pública,
E
estando ainda por calçar,
Faz
a vergonha da República
Junto
à Avenida Beira-Mar!
Indiferentes
ao capricho
Das
posturas municipais,
A
ele jogam todo o seu lixo
Os
moradores sem quintais.
Que
imundície! Tripas de peixe,
Cascas
de fruta e ovo, papéis...
Não
é natural que me queixe?
Meu
prefeito, vinde e vereis!
Quando
chove, o chão vira lama:
São
atoleiros, lodaçais,
Que
disputam a palma à fama
Das
velhas maremas letais!
A
um distinto amigo europeu
Disse
eu: - Não é no Paraguai
Que
fica o Grande Chaco, este é o
Grande
Chaco! Senão, olhai!
Excelentíssimo
Prefeito
Hildebrando
Araújo de Góis,
A
quem humilde rendo preito,
Por
serdes vós, senhor, quem sois!
Mandai
calçar a via pública
Que,
sendo um vasto lagamar,
Faz
a vergonha da República
Junto
à Avenida Beira-Mar!
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