sexta-feira, 11 de abril de 2014

Receitas literárias

Eça de Queirós

(1845 – 1900)



Depois chegou a hora das luzes e do jantar. Eu encomendara pelo Grilo ao nosso magistral cozinheiro uma larga travessa de arroz-doce, com as iniciais de Jacinto e a data ditosa em canela, à moda amável da nossa meiga terra. E o meu Príncipe à mesa, percorrendo a lâmina de marfim onde no 202 se escreviam os pratos a lápis vermelho, louvou com fervor patriarcal:
- Arroz-doce! Está escrito com dois ss, mas não tem dúvida... Excelente lembrança! Há que tempos não como arroz-doce! Desde a morte da avó.

Mas quando o arroz-doce apareceu triunfalmente, que vexame! Era um prato monumental de grande arte! O arroz, maciço, moldado, em forma de pirâmide do Egito, emergia de uma calda de cereja e desaparecia sob os frutos secos que o revestiam até o cimo, onde se equilibrava uma coroa de conde feita de chocolate e gomos de tangerina gelada! E a iniciais, a data tão lindas e graves na canela ingênua, vinham traçadas nas bordas da travessa com violetas pralinadas! Repelimos, num mudo horror, o prato acanalhado.

Jacinto, erguendo o copo de champanhe. Murmurou como num funeral pagão:
- Ad Manes, aos nossos mortos!


(Trecho do livro “A Cidade e as Serras”)



Arroz-doce

Ingredientes para 6 pessoas

500 g de arroz carolino, 1,5 litros de leite,
1 vagem de baunilha, 500 g de açúcar, canela em pó.

Modo de preparo:

Ferva o leite com a baunilha. Coza o arroz no leite e,
quando cozido, acrescente o açúcar.
Deixe arrefecer e polvilhe com a canela a seu gosto.



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