(Lupicínio Rodrigues
e Felisberto Martins)
Boêmio e conquistador
inveterado, Lupicínio Rodrigues várias vezes transformou em samba episódios de
sua vida sentimental. Assim, por exemplo, “Se acaso você chegasse” é uma
mensagem/sondagem que dirige a um amigo, Heitor Barros, de quem havia tomado a
namorada. Lupicínio sabia que agira mal e temia perder o amigo, que muito
prezava. Para evitar o rompimento, procurava convencê-lo de que a amizade dos
dois era mais importante do que a mulher infiel (“Será que tinha coragem / de
trocar a nossa amizade / por ela já lhe abandonou...”), ao mesmo tempo em que
lhe comunicava um fato consumado (“eu falo porque essa dona / já mora no meu
barraco...”) e de difícil reversão (“de dia me lava a roupa / de noite me beija
a boca / e assim nós vamos vivendo de amor”) A verdade é que o poeta queria
ficar com a mulher
e o amigo, feito que acabou conseguindo, pois Heitor gostou do samba e perdoou
a traição.
Composto em 1936, de improviso, na
calçada do Café Colombo, em
Porto Alegre , “Se Acaso Você Chegasse” é um dos melhores
sambas de todos os tempos. Possui o mérito de ter projetado Lupicínio e Cyro
Monteiro, seu intérprete inicial, em 1938.
Lupicínio Rodrigues: 19.09.1914 a
27.08.1977
Se
acaso você chegasse
(Falando
com um amigo com as duas mãos no seu ombro,
olho no olho...)
olho no olho...)
Se acaso você chegasse
No meu chatô e encontrasse
Aquela mulher que você gostou.
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou?
No meu chatô e encontrasse
Aquela mulher que você gostou.
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou?
Eu falo porque essa dona
Já mora no meu barraco,
À beira de um regato
E de um bosque em flor.
De dia me lava a roupa,
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor.
Já mora no meu barraco,
À beira de um regato
E de um bosque em flor.
De dia me lava a roupa,
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor.
(Do livro “A Canção
no Tempo”, Vol. 1: 1901 – 1957,
de Jairo Severiano e
Zuza Homem de Mello)
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