sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sempre é possível ver de maneira diferente



O eterno insatisfeito

Shanti percorria as cidades pregando a palavra Divina, quando um homem veio procurá-lo para que curasse seus males.
− Trabalhe, alimente-se, e louve a Deus − respondeu Shanti.
− Quando trabalho, sinto minhas costas doerem. Quando como, minha barriga queima com azia. Quando bebo, minha garganta arde com a bebida. Quando rezo, sinto que Deus não me escuta.
− Então busque outra pessoa para ensiná-lo.
O homem foi embora, revoltado. Shanti comentou com os que ouviam a conversa:
− Ele tinha duas formas de encarar cada coisa, e escolheu sempre a pior. Quando morrer, é possível que também reclame do frio dentro do túmulo.

Qual o melhor caminho

Quando perguntaram ao abade Antônio se o caminho do sacrifício levava ao céu, este respondeu:
− Existem dois caminhos de sacrifício. O primeiro é o do homem que mortifica a carne, faz penitência, porque acha que estamos condenados. Este homem sente-se culpado, e julga-se indigno de viver feliz. Neste caso, ele não chega a lugar nenhum, porque Deus não habita a culpa.
O segundo é o do homem que, embora sabendo que o mundo não é perfeito como todos queríamos que fosse, reza, faz penitência, oferece seu tempo e seu trabalho para melhorar o ambiente ao seu redor. Neste caso, a Presença Divina o ajuda o tempo todo, e ele consegue resultados no Céu.

Continue no deserto

− Por que o senhor vive no deserto? − perguntou o cavaleiro.
− Porque não consigo ser o que desejo.
− Ninguém consegue. Mas é preciso tentar − insistiu o cavaleiro.
− Impossível. Quando começo a ser eu mesmo, as pessoas me tratam com uma reverência falsa. Quando sou verdadeiro a respeito de minha fé, então elas que começam a duvidar. Todos acreditam que são mais santos que eu, mas fingem-se de pecadores com medo de insultar minha solidão. Procuram mostrar o tempo todo que me consideram um santo; e assim se transformam em emissários do demônio, me tentando com o Orgulho.
− Seu problema não é tentar ser quem é, mas aceitar os outros como são. E agir assim, é melhor continuar no deserto − disse o cavaleiro, afastando-se.

Estou morrendo de fome

Em plena tempestade de neve, o viajante chegou ao convento.
− Estou morrendo de frio e de fome, e não tenho como ganhar meu sustento; preciso comer.
Acontece que, justamente naquele dia, a tempestade havia impedido os monges de reabastecerem a dispensa, e não havia absolutamente nada para comer ou beber. Compadecido, o abade abriu o sacrário, tirou as hóstias consagradas e o cálice de vinho, e fez com que o estranho se alimentasse com eles.
Os outros monges ficaram horrorizados:
− Isso é um sacrilégio!
− Por que sacrilégio? − respondeu o abade. − Vocês ouviram falar de David, que comeu o pão do tabernáculo quando passava fome. Cristo curava no sábado, sempre que era necessário. Eu apenas coloquei o espírito de Jesus em ação: amor e misericórdia agora podem fazer seu trabalho.



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