terça-feira, 1 de abril de 2014

Sonetos de Artur Azevedo



       A Carvalho Junior

O noivo, como noivo, é repugnante: 
Materialão, estúpido, chorudo, 
Arrotando, a propósito de tudo, 
O ser comendador e negociante. 

Tem a viuvinha, a noiva interessante, 
Todo o arsenal de um poeta guedelhudo: 
Alabastro, marfim, coral, veludo, 
Azeviche, safira e tutti quanti. 

Da misteriosa alcova a porta geme, 
O noivo dorme n'um lençol envolto... 
Entra a viuvinha, a noiva... Oh, céu, contem-me! 

Ela deita-se... espera... Qual! Revolto, 
O leito estala... Ela suspira... freme..., 
E o miserável dorme a sono solto!...

               Desengano

A pensionista pálida que gosta 
(Fundada pretensão!) que a digam bela, 
E do colégio, à tarde, na janela, 
Para dar-me um sorriso se recosta; 

Que me escreve nas férias, de Bem-posta
Aonde vai visitar a parentela,
Pedindo-me que não me esqueça dela 
E dando-me uns beijinhos..., pela posta; 

Essa ninfa gentil dos olhos pretos,
Essa beleza de anjo... oh, sorte varia; 
Vergonha eterna para os meus bisnetos! 

Com um pançudo burguês, uma alimária
Que não a sabe amar, nem faz sonetos,
Vai casar-se amanhã na Candelária. 

                              1873









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