terça-feira, 1 de abril de 2014

Sonetos portugueses

Saudade

Saudade é querer viver o já vivido,
Querer amar e ter amado já...
Sentindo o coração anoitecido,
Querer beijar a luz que o sol lhe dá.

Saudade é ver fugir o bem perdido,
Não podendo ir com ele aonde ele vá;
Ai! Saudade afinal é ter nascido
Na certeza que a vida acabará!

Horizontes sem fim, novas paisagens...
Saudade é vago espelho onde as imagens
Têm vida para além da realidade.

Saudade é tudo enfim que me rodeia;
Um relevo de passos pela areia;
A morte, a vida, o amor, tudo é saudade...

Anrique Paço D´Arcos (Do livro Divina Tristeza)

A voz do moinho

Quando eu era moço e cria
que o mundo era tido meu
e com a minha alegria
enchia a terra e o céu,

num cerro perto gemia
um moinho: E enquanto eu
era feliz, noite e dia
triste o moinho gemeu.

Eu ria, sem um cuidado;
mas do moinho a buzina
chorava num tom magoado!

Hoje, como no passado,
discordante e nossa sina:
 Eu choro... ele esta calado!

Chistovam Ayres

(Poemas publicados no “Almanach Bertrand”, de 1930)

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