A
Infidelidade
Ele – Marido.
Personagens:
Voz de mulher – A outra
Voz de mulher – A outra
Calada – Esposa
(Cenário:
uma mesinha com um telefone. Marido sentado de um lado e esposa do outro. Os
dois leem o jornal. Telefone toca, ele atende.)
Ele
– Alô?
Voz
de mulher – Ah,
é você? Ainda bem, eu já liguei duas vezes e foi a tua mulher que atendeu. Eu
tive de desligar.
Ele
– Bom-dia,
Horácio...Não, não é incômodo nenhum, a gente tem de preparar a reunião do
sindicato, Horácio...
Voz
de mulher – Você
não pode falar? Tua mulher está aí do lado?
Ele
– Exato,
Horácio... O problema todo é esse.
Voz
de mulher – Mas
não dá pra falar mesmo?
Ele
– Não, Horácio,
e esse é o problema dessa reunião...
Voz
de mulher – Tá
bom, tá bom... Deixa que eu falo. Olha, amanhã à tarde dá pra gente se
encontrar. Você consegue?
Ele
– Bom, tem de
haver uma certa estratégia, Horácio...
Voz
de mulher – Ela
está bem aí do teu lado?
Ele
– Exato! Exato!
Você não pode imaginar quanto!
Voz
de mulher – Já
entendi. Então me responde só por sim ou não se você está livre amanhã.
Ele
– Sim! Amanhã,
todo mundo na reunião sindical, inclusive eu e você. Você não pode faltar,
Horácio.
Voz
de mulher – Então
a gente se vê amanhã. A que horas?
Ele
– Mas eu não
posso dizer isso na frente da assembleia, você não vê, Horácio? Ha! Ha! Ha!
Voz
de mulher – Então
eu vou dizendo as horas e você vai me dizendo se pode. Que tal às 2 horas?
Ele
– Não, Horácio.
Eu acho que a gente pode conseguir uma quantia mais alta da diretoria.
Voz
de mulher – Que
tal 2 e meia?
Ele
– Muito mais do
que isso!
Voz
de mulher – Três
horas?
Ele
– Isso. Eu acho
que é um número razoável. Nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Voz
de mulher – E
onde é que a gente se encontra?
Ele
– Ah, isso eu
não posso dizer. Como é que você quer que eu diga isso, Horácio?
Voz
de mulher – Claro.
Então eu digo. Que tal a gente se encontrar no Motel Cascata?
Ele
– Não dá. É
muito... muito... Como é que eu vou dizer isso? É muito...
Voz
de mulher – Muito
perto da tua casa?
Ele
– Exato! Exato!
Voz
de mulher – E
que tal o Motel do Chamego?
Ele
– Tem um
problema. Aliás, sempre teve esse problema.
Voz
de mulher – Ah,
não dá pra entrar com o carro sem ser visto?
Ele
– Pois é. Exato,
Horácio...
Voz
de mulher – Então
o que é que a gente faz? Eu não aguento mais te ver assim, sempre morto de medo
da tua mulher.
Ele
– Ah, isso não.
Ninguém pode duvidar da minha coragem política.
Voz
de mulher – Você
morre de medo dela mesmo.
Ele
– Eu? Horácio,
não me faça rir. Há! Há! Há!
Voz
de mulher – Eu
queria ver você aí, na frente dela, com esse riso imbecil!
Ele
– Bom, não
começa, porque eu sou homem de ir até o fim, Horácio! Você me conhece. Olha que
eu rompo! Eu rompo com o sindicato, Horácio!
Voz
de mulher – É,
no telefone você é muito valente. Olha, adeus, viu? Pra sempre! (desliga)
Ele – Isso mesmo! Inclusive
eu só volto a tratar desse assunto dentro do momento oportuno e do quadro
político bem definido! E não quero mais conversa, Horácio! (bate o telefone)
Ora! Onde é que já se viu? (vira-se para a esposa, que continua calada, lendo)
É o Horácio. Está louca essa mulher!
Nenhum comentário:
Postar um comentário