domingo, 6 de abril de 2014

Testamento e dois epitáfios


1
Antonico, meu irmão
Vou contar-te, meu amigo
A triste vida que passo
Sem afago e sem abrigo


2
Rebenqueado da saudade
E esporeado da fortuna
Para que tanto penar
Se vida tenho só uma?


3
De meus trastes que ficarem
Te reservo umas chilenas
Que o bagual repeniquei
Na frente de umas morenas


4
Minhas bolas, o meu laço
Meu rebenque e tirador
Destino àquele que for
Bom gaúcho pealador


5
Na sepultura me ponhas
Um letreiro colorado
Para que o mundo leia:
"Aqui jaz um desgraçado."



(Augusto Meyer. Cancioneiro gaúcho.
Rio de Janeiro, Editora Globo, 1952. Coleção Província, 2)


DOIS EPITÁFIOS

No túmulo de uma moça:

Dorme aqui, na sombria soledade
Quem viveu sem viver!
A flor mais bela
Oh! vós que passais, deixai uma saudade!
Auras da noite, suspirai por ela!

(Lobo da Costa)

No túmulo de um avô:

Há vivos que já não vivem
Dores que não têm conforto
Nós as sentimos por ti
Que vives estando morto!



(J. Simões Lopes Neto. Cancioneiro guasca; antigas danças, poemetos, quadras, trovas, dizeres, poesias históricas, desafios. Porto Alegre, Editora Globo, 1954. Coleção Província, 6)

Nenhum comentário:

Postar um comentário