Esta
história faz parte do folclore futebolístico. Seleção
gaúcha, representando o Brasil, foi campeã pan-americana de futebol no México.
Ataque do pan:
Luizinho, Bodinho, Larri, Ênio Andrade e Chinesinho
O
calendário do Pan-Americano marcava rodada dupla para a noite de 6 de março. Na
preliminar, Argentina X Costa Rica e no jogo de fundo, Brasil X Peru. O time
brasileiro era o mesmo que iniciou a partida contra o Chile: Sérgio, Oréco,
Florindo, Ênio Rodrigues e Duarte; Odorico e Ênio Andrade; Luizinho, Bodinho,
Larry e Raul.
Mesmo quem estava no Estádio não
podia acreditar. Eram 15 minutos do segundo tempo e a Costa Rica derrotava a
Argentina por 3 a
1. Para piorar, Tucho Mendez, uma legenda do futebol argentino e já também um
dinossauro de 34 anos, fraturou a perna e saiu de campo. O técnico Guilhermo
Stábile colocou em seu lugar Sívori, garoto de 20 anos, revelação do River
Plate campeão argentino de 1955. Baixo, cabeça grande e um pouco barrigudo, em
nada lembrava a fisionomia de um atleta de futebol. Parecia jogador de xadrez e
como um exímio enxadrista deu um xeque-mate na Costa Rica. Marcou três gols em
25 minutos e saiu de campo carregando consigo todos os prêmios de melhor da
partida. Resultado final: Argentina 4 X 3 Costa Rica.
O confronto contra os peruanos
era chave na competição. Dois dias antes, eles haviam derrotado o México por 2 a 0 (no embate das
civilizações inca e asteca) e assumiam, embora com uma partida a mais, a
liderança do torneio.
Florindo mostrou que não estava
para brincadeira. Incumbido de marcar Mosquera, não queria passar o mesmo
vexame do qual o argentino Cardoso havia sido vítima. Nas duas primeiras
divididas, chegou atrasado propositadamente para trombar com o pequenino
Mosquera, que naturalmente levava sempre a pior. Indisposto a virar saco de
pancada, o peruano recuou e começou a jogar no meio de campo, onde era menos
perigoso.
O perigo agora se chamava Félix
Castilho, 36 anos, ponteiro-direito veloz como um cavalo de corrida. Duarte,
encarregado de marcá-lo, não o viu em campo. Ênio Rodrigues
jogou toda a partida em sua cobertura. Mas foi o Brasil quem largou na frente.
Larry, ao receber uma cobrança lateral, ainda na intermediária, numa atitude
impensada chutou a gol. A bola tomou uma força incrível e entrou no ângulo do
goleiro Felandro. Um golaço.
No segundo tempo, os comandados
de Teté praticamente não passaram do meio campo. Em um curto espaço de tempo,
Duarte cometeu três faltas consecutivas sobre Félix Castilho. Vendo que o
árbitro Alfredo Rossi corria energicamente em sua direção para verbalmente
mandá-lo embora de campo (não havia o sistema de cartões), Duarte ajoelhou-se
aos seus pés e pediu clemência, só faltando chamar Rossi de Vossa Santidade.
Foi perdoado.
Na tentativa de dar mais
movimentação ao ataque, Teté tirou Larry, cansado, e colocou Juarez em seu
lugar. A torcida, imediatamente, começou a gritar tourito, tourito.
Entretanto, quem continuou a melhorar foi a seleção peruana.
A partida assumia requintes de
dramaticidade. O capitão Ênio Rodrigues lesionou-se e precisou ser atendido
pelo médico Derly Monteiro e o massagista Moura atrás da goleira de Sérgio.
Quando Félix Castilho, sempre ele, driblou dois adversários e entrou área
adentro para marcar o gol de empate, Moura atirou a maleta do doutor Derly na
bola, fazendo com que o habilidoso ponteiro peruano se perdesse na jogada. O
sururu foi geral. Os peruanos queriam a prisão perpétua do massagista
brasileiro. Houve troca de empurrões entre vários jogadores, e a pequena área
ficou cheia de mercúrio, éter, iodo, algodão e vela. O árbitro não sabia o que
marcar, já que o livro de regras era omisso nesse artigo. Decidiu,
diplomaticamente, pela cobrança do escanteio.
A segunda vitória em dois jogos
mostrou que a gauchada não estava lá para fazer número. O clube Puebla entregou o troféu
da partida, posteriormente colocado na Arca de Troféus. Mais do que Larry, autor do gol
da vitória, o herói da noite foi o massagista Moura.
(Do livro “1956 Uma epopeia
gaúcha no México”,
de Eduardo Valls – WS editor)
de Eduardo Valls – WS editor)
Nenhum comentário:
Postar um comentário