terça-feira, 1 de abril de 2014

Um pequeno conto de Cornélio Pires

        

Um roceiro vem a São Paulo e cai nas garras de um espertalhão da pior espécie. Este o leva um dia a jantar num restaurante, onde comem à tripa forra; no fim, pretextando qualquer coisa, retira-se, deixando o caipira à sua espera.

Depois de muito tempo, como o homem não volta e como lhe exigem o pagamento, o roceiro resolve explicar-se com o gerente, declarando que fora convidado e que estava desprevenido; mas o gerente não quer saber de nada, e impõe-lhe este dilema: ou paga, ou não sai.

O desventurado dá largas à sua indignação contra o patife que o pôs naqueles assados, e, matutando, parolando, acaba por afirmar que dará com o tal ali dentro, sem a maior demora, por meio de uma mandinga que ele conhece. Pede uma agulha e um bom pedaço de linha. Dão-lha. Dirige-se então à porta da rua, espeta a agulha na porta com a linha enfiada e presa por um nó, pega na linha e vai-se afastando a pouco e pouco, a esticá-la à medida que corre os dedos por ela, tudo isso debaixo de um ar de concentração e mistério. Afinal, chegando a extremidade da linha, que teve o cuidado de puxar para o lado da rua, dá um salto para fora e diz adeus ao pessoal do restaurante.


Nenhum comentário:

Postar um comentário