quarta-feira, 9 de abril de 2014

Uma brincadeira de Guilherme de Almeida



(1890 – 1969)

Para castigar os que o censuravam em suas crônicas de jornal o emprego frequente de palavras estrangeiras, o poeta imaginou uma troça. Publicou um escrito, que ele próprio imaginou, em linguagem antiga. E desafiou que seus críticos o entendessem. Dias depois, publicou o texto-notícia, em linguagem atual e cheia de estrangeirismos.

A seguir, damos os dois textos, o primeiro dos quais foi publicado a 25.04.1931 no jornal “O Estado de São Paulo”:

“...No seu elegante castelete de plumeti viajado, perfeito ludambulo, o doutor Castro Lopes repousava da grande concião onde, pregando o haurinxugo do pantanal político, e fazendo o preconício da Constituinte, num discurso esplêndido, ora estrepitoso como um runimal, ora repleto de suaves ancenúdios, provocara os entusiasmos do venoplauso. Agora, o nosso herói acabava de despedir um alvissareiro, que, tiritante sob o facale de lã, de lápis e choribel em punho, viera entrevistá-lo. Era noite. Ouvia-se ainda, ao longe, o penilúdio da populaça. O doutor Castro Lopes, vestindo o seu rocló de seda ornado de trancelins e fofos de colméia, e assestando os nasóculos, todo reclinado, sob lucivelo, numa poltrona coberta de toalhinhas de croquezinho, entregava-se beatificamente aos trabalhos de premador. No seu cérebro agitado, de mistura com as preocupações de postrídio, o doutor Castro Lopes premeditava um ancivérbio com o seu próprio nome: o nobre apelo dos Castros feudais”...etc...

Leram, amigos? Entenderam? – Não? Então recortem isso, guardem, e amanhã confrontem com a chave que parecerá aqui mesmo.

               E no dia seguinte vem a chave no mesmo jornal
 onde colaborava o poeta.

“...No seu elegante “chalet” de “parvenu” viajado, perfeito “teuriste”, o doutor Castro Lopes repousava do grande “meeting” onde, pregando o “drainage” do pantanal político, e fazendo o “reclame” da Constituinte, num discurso esplêndido, ora estrepitoso como uma “avalanche”, ora repleto de suaves “nuances”, provocara os entusiasmos da “claque”. Agora, o nosso herói acabava de despedir um “repórter” tímido, que tiritando sob o “chache-nez” de lã, de lápis e “cadernet” em punho, viera entrevistá-lo. Era noite. Ouvia-se, ainda, ao longe, o “charivari” da populaça. O doutor Castro Lopes, vestindo a sua “robe de chambre” de seda ornada de “soutaches” e “ruches”, e assestando o “pince-nz”, todo reclinado, sob o “abat-jour”, numa poltrona coberta de toalhinhas de “crochet”, entregava-se beatificamente aos trabalhos do “massagiste”. No seu cérebro agitado, de mistura com as preocupações do “lendemain”, o doutor Castro Lopes premeditava um “calembourg” com o seu próprio nome: o nobre apelido dos Castros feudais”...etc..



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