Uma pulga na camisola
Era tão azarado que, se quisesse achar uma agulha no
palheiro, era só sentar-se nele.
A prova de que o balé dá sono na platéia é que os artistas entram sempre na
ponta dos pés.
Não é que as moças de hoje sejam mais bonitas. É que as de ontem já deixaram de
ser.
O caqui não passa de um tomate diabético.
Quem pede a palavra nem sempre a devolve em condições.
O jipe é o maior esforço feito pelo homem para chegar à mula mecanizada.
O casamento é como a pessoa que quer tomar um copo de leite e compra uma vaca.
O casamento é o único jogo que acaba mal sem que ninguém ponha a culpa no juiz.
Os homens casados se dividem em três categorias: os polígamos, os bígamos e os
chateados.
Com as ruas esburacadas desse jeito, é preciso ser muito virtuoso para não dar
um mau passo.
O difícil de confundir alhos com bugalhos é que ninguém sabe o que são
bugalhos.
O motivo pelo qual o povo não consegue mais comer de garfo e faca é que há
muita gente comendo de colher...
Democracia
é aquele regime pelo qual qualquer cidadão pode ser presidente da República,
menos eu e você, naturalmente.
Duplicata
é uma coisa que sempre vence. Nunca empata.
Houve um tempo no Brasil em que ninguém tinha dinheiro. É hoje.
Há casais que se detestam tanto que não se separam só pra um não dar esse
prazer ao outro.
O eleitor, obrigatoriamente, tem que ser qualificado. O candidato, não.
Personalidade é aquilo que uma pessoa tem quando não está precisando do
emprego.
Algumas mulheres são tão feias que deviam processar a natureza por perdas e
danos.
Quando
a mãe informou aos filhos que ia conferir um prêmio ao mais obediente da casa,
todos gritaram ao mesmo tempo: “É o papai!”.
Ah, o que
seria do governo se o povo pudesse falar pela boca do estômago!
Já foi o tempo em que a união fazia a força. Hoje a União cobra os impostos e
quem faz a força é você.
A prova de que tudo subiu de preço é que até uma coroa já é cara.
Uma camisa nova tem sempre um alfinete além daqueles que você já tirou.
Opinião é uma coisa que a gente dá e, às vezes, apanha.
Na praia é que a gente nota que esse negócio de vacina pega mesmo.
Se...
Max Nunes
Um dos poemas mais conhecidos é "Se...", de Rudyard Kipling, em que um pai diz a um filho o que é necessário para ele se tornar um homem. Mas isso foi em 1910. Como seria hoje o homem de Kyplinkg?
Se és capaz de usar uma peruca
De caracóis dourados sobre a cuca
E manter a aparência dos esnobes
Ao dormir com uma touca sobre os bobs;
Se és capaz de rodar uma bolsinha,
Segurando-a com charme, pela alça,
Em lugar de levar a carteirinha
E o dinheiro guardados em tua calça;
Se és capaz de levar sobre o pescoço
Colares e medalhas como adornos
Usar calças bem justa e bordadas,
Que acentuem por trás os teus contornos;
Se és capaz de vestir essas camisas
Com frases pelas costas e abdômen
E, corajoso, nem te ruborizas,
Então, sim, filho meu,
Serás um homem.
Max Nunes nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de abril de 1922, faleceu em 11 de junho de 2014. Médico, acabou se tornando um dos maiores humoristas brasileiros. Criador
do famoso programa Balança, mas não cai, da década de 50, na Rádio Nacional,
passou pelo Diário da Noite e Tribuna da Imprensa, sendo hoje um dos produtores
do programa de TV “Jô Soares Onze e meia.” Os textos acima foram extraídos do
livro "Uma pulga na camisola - O máximo de Max Nunes", Companhia das
Letras - São Paulo, 1996, pág. 37, seleção e organização de Ruy Castro.
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