quinta-feira, 10 de abril de 2014

Versos sobre os bichos


Vi um tejuassu escrevendo,
Vi um tamanduá fiando,
Uma raposa bordando,
Uma tacacá tecendo.

Vi feio macaco lendo,
Lagarta fazendo telha,
Um bando de rã vermelha
Trabalhando num tapume.

Vi um tatu com um curtume,
Curtindo couro de abelha.
Vi um quati marceneiro,
Vi um porco agricultor.

Timbu velho entalhador,
Um veado sapateiro,
Um furão como ferreiro,
Uma cotia tocando.

Quatro preguiças dançando,
Um guará vendendo covos,
Um coelho batendo ovos,
E um jabuti cozinhando.

Vi cassaco numa tenda,
Vi um camaleão cantando,
Um peru vi demarcando,
Vi galo vender fazenda.

Um rato fazendo renda.
Vi bode serrando ripa.
Vi burro fazendo pipa.
Um cão fazendo papel.

Dois saguis comprando mel
E um gato vendendo tripa.
Vi formiga de chocalho,
Formigão de granadeira.

Vi dois camarões na feira
Comprando queijo de coalho.
Um calango no trabalho
− melado de mel de furo.

Duas ribas num buraco
Plantando de noite e dia.
Imboá na freguesia
Tomando dinheiro a juro.

Vi mosca batendo sola,
Mucuim tocando flauta,
Caranguejo de gravata
E pulga tocar viola.

Vi cobra jogando bola,
Catita a tocar num busso,
Punaré fazendo fuso,
Um lacrau no desempate.

Besouro como alfaiate
Talhando roupas de uso.
Mosquito fumar cigarro,
Dois mocós puxando um carro.

Cururu cantando moda
Duas gias numa roda
A calafetar um barco
E muriçocas de saco.

Comprando peixe na praia,
Vi duas éguas de saia
E um aratu com um arco.

Vi jumento num bilhar
Pegando mesmo no taco.
Lagartixa de navalha
Fazendo as barbas dum sapo.

E, comendo de toalha
Um anum de guardanapo.
Vi peixe bom fogueteiro
Comprando material.

Vi papavento mandar
Na rua trocar dinheiro.
Vi coruja de embornal
Numa estrada caminhar.

Carrapato reboleiro
Comendo farofa pura
Um bando de tanajura
Almoçando num hotel.

Um percevejo de pé
C’um cesto de rapadura
Um gavião coronel...

(Gustavo Barroso: Ao som da viola)

Nenhum comentário:

Postar um comentário