(Max
Gehringer-Colunista Revista EXAME)
Juca Pato seria um hands on?
Vi um anúncio de emprego. A vaga era
de gestor de atendimento interno, nome que agora se dá à seção de serviços
gerais. E a empresa contratante exigia que os eventuais interessados possuíssem
-
sem contar a formação superior - liderança, criatividade, energia, ambição,
conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso,
ainda fossem hands on.
Para o felizardo que conseguisse
convencer o entrevistador de que possuía mesmo essa variada gama de
habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Ou seja, um pitico. Não que
esse fosse algum exemplo absolutamente fora da realidade. Pelo contrário, ele é
quase o paradigma dos anúncios de emprego atuais.
A abundância de candidatos está
permitindo que as empresas levantem, cada vez mais, a altura da barra que o
postulante terá de saltar para ser admitido. E muitos, de fato, saltam. E se
empolgam. E aí vêm as agruras da superqualificação, que é uma espécie do lado
avesso do efeito pitico...
Vamos supor que, após uma duríssima
competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana
conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno.
E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, gerente da contabilidade.
E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, gerente da contabilidade.
Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas
facções:
1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas
vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são
admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não
poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa
está de olho no longo prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário
poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.
Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha.
Admitimos um montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão
alto nível que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a
Fundação Alfred Nobel.
Pessoas super qualificadas não resolvem simples problemas!
Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de
nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi
antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o
Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês,
tinha informática e energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação. . só
que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda
estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de
bicicleta. Para horror de todos, ele falava 'nóis vai' e coisas do gênero. Mas,
em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar.
Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.
- Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário
para quem as Empresas modernas torcem o nariz:
O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.
Max Gehringer
Este, sim, é o
verdadeiro hands on!
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