Marsha
Arons
Tradução de Sérgio
Barros
Todo ano, em meu aniversário, desde que fiz 12 anos, uma gardênia branca
me era entregue anonimamente em minha casa. Nunca havia um cartão ou uma nota,
e as chamadas à floricultura eram em vão porque a compra era feita sempre em
dinheiro.
Após um tempo, eu parei de tentar descobrir a identidade do remetente.
Deliciava-me apenas com a
beleza e o perfume mágico daquela perfeita flor branca
suavemente envolvida em papel rosa. Mas eu nunca parei de imaginar quem poderia
ser o remetente.
Passei alguns de meus mais felizes momentos em devaneios sobre alguém
maravilhoso e emocionante, mas demasiado tímido para tornar conhecido sua
identidade. Em minha adolescência, era divertido especular que o remetente
poderia ser um menino apaixonado. Minha mãe sempre contribuía com minhas
especulações. Perguntava-me se haveria alguém para quem eu tivesse feito uma
bondade especial, que pudesse demonstrar a apreciação anonimamente.
Lembrou-me dos tempos em que
eu deixava minha bicicleta para ajudar nosso vizinho a descarregar o carro e
cuidar para que as crianças não fossem para a rua. Ou, talvez, o misterioso
remetente fosse o senhor idoso do outro lado da rua. Eu, frequentemente,
recolhia sua correspondência na caixa e o entregava, assim ele não teria que se
arriscar descendo a escada gelada.
Minha mãe fez o melhor que pôde para aguçar minha imaginação sobre a
gardênia. Queria que suas crianças fossem criativas. Também queria que
tivéssemos a sensação de sermos estimados e amados, não apenas por ela, mas
pelo mundo todo.
Quando fiz 17 anos, um menino machucou meu coração. Naquela noite tudo o
que eu queria era dormir. Quando acordei pela manhã, havia uma mensagem feita
com batom em meu espelho:
“Saiba, quando meio-deus se vai, os deuses chegam.”
Pensei sobre essa frase por muito tempo e a deixei onde minha mãe
escreveu até que meu coração se curasse. Quando eu limpei o vidro, minha mãe
sabia que tudo estava bem novamente.
Mas havia algumas feridas que minha mãe não poderia curar.
Um mês antes de minha formatura, meu pai morreu, repentinamente, de um
ataque do coração. Desinteressei-me completamente por minha formatura e pelo
baile, pelo qual eu tinha esperado muito. Minha mãe, em meio a seu sofrimento,
não admitia que eu faltasse. Um dia, antes da morte de meu pai, ela e eu saímos
para comprar um vestido para o baile e encontramos um espetacular. Mas era do
tamanho errado, e quando meu pai morreu, no dia seguinte, eu me esqueci do
vestido. Minha mãe não.
Um dia antes do baile, eu encontrei o vestido esperando por mim – no
tamanho certo. Eu posso não ter me importado em ter um belo vestido novo, mas
minha mãe se importou. Ela se importava em como suas crianças se sentiam sobre
si mesmas. Ela nos imbuiu com um sentido mágico e nos deu habilidade de ver a
beleza mesmo na hora da adversidade.
Na verdade, minha mãe queria que suas crianças se vissem como a gardênia
– encantadora, forte, perfeita, com uma aura mágica e um pouco de mistério.
O ano em que minha mãe morreu foi o ano em que pararam de chegar as
gardênias brancas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário