quarta-feira, 7 de maio de 2014

A Morte e o Lenhador



Um velhinho, muito velho, vivia de tirar lenha na mata. Os feixes, porém, cada vez lhe pareciam mais pesados. Tropicava com eles, quase caía, e um dia, caiu de verdade, perdeu a paciência e lamentou-se amargamente:

− Antes morrer! De que me vale a vida, se nem com este miserável feixe posso? Vem, ó Morte, vem aliviar-me do peso desta vida inútil.

Tentou erguer a lenha. Não pôde e, desanimado, invocou pela segunda vez a Magra.

− Por que demoras tanto, Morte? Vem, já pedi, vem aliviar-me do fardo da vida. Andas pelo mundo a colher criancinhas e esqueces de mim que tanto te chamo...

A Morte foi e apareceu – horrenda, escaveirada, com ossos a chocalharem e a foice na mão.

A vê-la de perto o homem estremeceu de pavor, e mais ainda quando a Magra lhe disse, batendo os ossos do queixo:

− Cha-mas-te-me; a-qui es-tou!

O velho tremia, suava... E para sair-se dos apuros só teve esta:

− Chamei-te, sim, mas para me ajudar a botar esta lenha às costas...



(“Fábulas”, de Monteiro Lobato)

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