Um velhinho, muito velho, vivia de tirar lenha na
mata. Os feixes, porém, cada vez lhe pareciam mais pesados. Tropicava com eles,
quase caía, e um dia, caiu de verdade, perdeu a paciência e lamentou-se
amargamente:
− Antes morrer! De que me vale a vida, se nem com este miserável feixe
posso? Vem, ó Morte, vem aliviar-me do peso desta vida inútil.
Tentou erguer a lenha. Não pôde e, desanimado, invocou pela segunda vez
a Magra.
− Por que demoras tanto, Morte? Vem, já pedi,
vem aliviar-me do fardo da vida. Andas pelo mundo a colher criancinhas e
esqueces de mim que tanto te chamo...
A Morte foi e apareceu – horrenda, escaveirada, com ossos a chocalharem
e a foice na mão.
A vê-la de perto o homem estremeceu de pavor, e mais ainda quando a
Magra lhe disse, batendo os ossos do queixo:
− Cha-mas-te-me; a-qui es-tou!
O velho tremia, suava... E para
sair-se dos apuros só teve esta:
− Chamei-te, sim, mas para me ajudar a botar esta lenha às costas...
(“Fábulas”, de Monteiro
Lobato)
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