Extraído da página
133 do livro
“Rio Grande Do Sul - Um Século de História”,
de Carlos Urbim,
Lucia Porto, Magda Achutti e Emiliano Urbim,
editora Mercado Aberto:
editora Mercado Aberto:
Ocultas pela calada da noite,
milhares de pessoas, durante décadas, a partir de 1838, se descartaram de
fardos humanos indesejados, depositando-os na pequena abertura de um cilindro
giratório existente na parede fronteiriça da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre.
A Roda dos Expostos era uma engrenagem
semelhante a uma roleta na qual a criança era colocada aos cuidados da caridade
pública. A mãe, que mantinha dessa forma o anonimato, girava o mecanismo e seu
filho via-se ao abrigo da Santa Casa, que recebeu do governo a incumbência de
criar os recém-nascidos abandonados.
Enquanto davam meia-volta no
cilindro, girando a criança para o seu interior, elas puxavam nervosamente a
campainha e se afastavam rápido para fugir ao flagrante.
No interior da casa, próximo à
entrada, a porteira, mulher velha e de sono leve, corria e acomodava o pequeno
enjeitado em um berço quentinho, com um pelego de ovelha feito colchão.
Os meninos e meninas abandonados
viviam na chamada Casa da Roda, sustentada exclusivamente por doações da comunidade.
Essas crianças eram conhecidas como Meninos do Arsenal porque a maioria
conseguia emprego no Arsenal de Guerra.
A Roda dos Expostos só foi extinta em
1940, vários anos depois de ser abandonada pelos demais países que também a
adotavam, como a França. Enviada ao Museu Júlio de Castilhos, a engrenagem
acabou sendo devorada pelos cupins.”
(Texto de Magda
Achutti)
Luciana de Abreu, a órfã da Roda dos Expostos
Uma das ruas mais elegantes do
Moinhos de Vento homenageia uma mulher de destaque na história cultural gaúcha
– Luciana de Abreu (1847 – 1880).
Sua vida foi surpreendente: de
órfã abandonada na Roda dos Expostos da Santa Casa, na noite de 11 de julho de
1847, ela tornou-se professora, escritora e defensora dos direitos das
mulheres. Integrou o Partenon Literário – sociedade formada por jovens
intelectuais de Porto Alegre –, onde realizou discursos contundentes.
Em um deles, de 1873, defendeu a
igualdade de direitos entre os sexos: “Nós (mulheres) não somos somenos ao
homem: a nossa alma tem a mesma passividade e atividade que a dele, e tanto a
sensibilidade como a inteligência e liberdade participam do mesmo grau de
capacidade e podem ter o mesmo grau de desenvolvimento num ou noutro sexo.”
Além de tudo
isso, Luciana foi esposa dedicada e mãe de um casal de filhos.
Professora emérita, consagrada
por mestres e discípulos, teve vida muito breve: aos trinta e três anos de
idade, cheia ainda de esperanças, de projetos e anseios, fechava os olhos para
o mundo, vítima de insidiosa tuberculose, conforme consta do atestado de óbito,
a 13 de junho de 1880.
Porto Alegre consagrou-a dando seu
nome a uma rua e a Secretaria da Educação e Cultura a uma escola, o G. E.
Luciana de Abreu, sito à avenida João Pessoa, esquina da rua Venâncio Aires.
Nesse discurso,
confirmando suas ideias emancipacionistas da mulher, dizia ela:
“E vós, senhoras
brasileiras, que reunis à beleza plástica uma vasta inteligência e um terno coração,
não quereis que pulse ele ao amor das letras e da glória nacional? - Ontem,
proscritas da ciência e consideradas apenas meros ornatos dos salões, deu-vos o
Partenon um lugar de honra no banquete do progresso. Hoje, que a voz autorizada
de Andrada se elevou no parlamento nacional em prol de vossos foros, estreai no
Partenon o uso de vossos direitos”.
Realmente muito interessante!Eu desconhecia a história de Luciana de Abreu e, a partir de hoje, jamais passarei pela Rua Luciana de Abreu, sem lembrar do que acabo de ler neste Blog. Parabéns ao autor por preservar a história de Porto Alegre.
ResponderExcluirObrigado, Mateus, pela leitura de nosso modesto Almanaque e pelo gentil comentário.
ExcluirNilo da Silva Moraes
" Somente seres humanos excepcionais e irrepreensíveis suscitam ideias generosas e acções elevadas."
ResponderExcluirAlbert Einstein
Minha mãe contou exatamente como era a roda dos expostos muitas pessoas desconhecem essa história.
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