Athos Damasceno Ferreira
Gravura da antiga Porto Alegre
(João Faria Viana)
Que é daqueles lampiões
que espiavam de dentro do tufo das árvores
velhas
o ingênuo colóquio dos noivos
nas salas das casas fronteiras à praça?...
As crianças brincavam de roda na rua risonha
que foi o princípio da linda cidade
açoriana...
De cima – as estrelas botavam reflexos vagos
nos vidros
dos graves sobrados
com largas portadas e muros cobertos de
heras...
Debaixo – os humildes e tristes casebres
erguiam, medrosos, os olhos vazios das
janelas
até a nobreza doa altos beirais
solarengos...
E via as crianças brincando de roda.
E via o ingênuo colóquio dos noivos
que eram vigiados
cuidados
olhados
por todos os lados...
E via que, às vezes, cruzavam a praça
deserta
senhores austeros, com fraques de alpaca e
calças balão...
Diziam que eram maçons,
- senhores de alta linhagem
que vinham de estranhos congressos,
falavam baixinho
e viam mistérios em todos os cantos...
Depois – se perdiam nos ângulos rasos das
ruas...
Agora, o silêncio me diz tanta coisa,
me dá a presença amorosa de tantos destinos
ausentes!...
Na praça deserta
as árvores velhas se encolhem na sombra,
as folhas cochicham...
E no fundo esbatido do céu de cinza
as torres da Igreja das Dores
assistem e velam o sono cristão da cidade...
(De “Poemas da Minha
Cidade”, Edição da Livraria do Globo, Porto Alegre, 1944)
* No local existiu uma senhora
negra e macumbeira chamada Felizarda. Segundo Achiles Porto Alegre “Ela morava numa casinha de porta e janela,
trepado num barranco da praça, que ficava ao lado do riacho. Era um verdadeiro
tipo de china, e daí veio o apelido expressivo de Bronze. Não sei se teria tido
meios virtuosos de vida; sua existência, porém, que conste, não era escandalosa. Vivia talvez de fazer mandingas, de
engazopar com benzeduras e engrimanço as pobres mulheres que faziam comércio do
corpo, como a quase sua contemporânea dona Flor,
que morava em frente à cadeia, há 40 anos.”
Outra versão do apelido
“... era conhecida, não sei quê de
Bronze, e que por decência só era chamada Bronze (o Senador Mem de Sá, em suas
memórias, refere que seria “Cu de Bronze” o apelido inteiro), nome que foi dado
àquele lugar por ser ela a figura mais notável do bairro”. (Antigualhas,
Coleção ERUS).
É interessante caminhar pela região e imaginar o que acontecia por ali na época. Detalhe: desde1833 a região aparece como
referência nas atas da Câmara Municipal como “Alto da Bronze”, até 1866, quando
o local deixou de ser domínio privado, passando a ser a atual Praça General
Osório.
É interessante caminhar pela região e imaginar o que acontecia por ali na época. Detalhe: desde
A música feita para a praça
Letra de Plauto de
Azambuja Soares (Foquinha)
Música de Paulo Coelho
Música de Paulo Coelho
Alto da Bronze,
cabeça quebrada, praça querida.
Sempre lembrada,
Sempre lembrada,
a Praça 11 da molecada
Praça sem banco,
Praça sem banco,
do rato branco e do futebol
Da garotada endiabrada das manhãs de sol
És a eterna lembrança
Do tempo feliz em que eu era criança
Tempo em que essa era da minha infância a grande quimera
Hoje, eu, pobre profano, me lembro de ti e dos meus desenganos
Oh, meu Alto da Bronze dos meus oitos anos…
Da garotada endiabrada das manhãs de sol
És a eterna lembrança
Do tempo feliz em que eu era criança
Tempo em que essa era da minha infância a grande quimera
Hoje, eu, pobre profano, me lembro de ti e dos meus desenganos
Oh, meu Alto da Bronze dos meus oitos anos…
Praça do Alto da Bronze em foto de 1930
ainda com o antigo chafariz
Crianças brincando na praça
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