Foto: Revista do
Globo
Ninguém saberia dizer seu nome – mas,
pelo apelido de Charuto, todos o conheciam. Figura folclórica do futebol gaúcho
entre as décadas de 1930 e 1950, ele era considerado torcedor-símbolo do
Internacional. De vida humilde, era representante legítimo do clube do povo.
Fazia biscates nas docas do Cais do Porto. Carregador de caixas de frutas,
verduras e legumes, guardava chuchus estragados para lançar sobre a torcida
gremista.
Forte, com roupas puídas e,
invariavelmente alcoolizado, não existia frequentador do antigo Estádio dos
Eucaliptos que não soubesse quem ele era. Se não tinha ingresso, podia contar
com a benevolência dos porteiros e com a generosidade de outros torcedores,
dispostos a pagar a sua entrada e a comprar as cervejas a mais que o ajudassem
a ficar suficientemente calibrado – a ponto de, às vezes, cair no sono durante
a partida, depois de circular de um lado a outro gritando: “Co-ro-ra-do!
Co-ro-ra-do!”.
Charuto permanecia de costas para o
campo e fascinava o garoto Luis Fernando, que ficava encantado vendo aquele
“colorado em estado puro”. Tempos depois, quando o garoto transformou-se no
cronista Luis Fernando Veríssimo, a memória daquele torcedor único continuava
para ele como exemplo de amor perene e incondicional pelo seu clube. Como
confessou numa antológica crônica, “o adversário, o resultado, o próprio jogo,
pouco interessavam, o importante era estar ao lado de seu time. Ganhando ou
perdendo”.
No dia 7 de dezembro de 1952, houve
um Gre-Nal e o Inter venceu por 5 a 1. Entre as centenas de torcedores que
lotavam os Eucaliptos, faltava um. Três dias antes da partida, Charuto
envolveu-se numa briga e foi morto. Para aqueles que o conheceram, ainda faz
falta.
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