Cora
Coralina
Cora Coralina* por José Martins dos Reis
Estavam ali parados. Marido e
mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio
aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe,
tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um
auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas
pobrezinhas.
O homem ouviu.
Abriu a carteira
tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu.
Perguntou,
indagou especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa
Senhora havia de ajudar.
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?
Donde se infere que o homem ajuda
sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
“A quem te pedir um peixe, dá uma
vara de pescar.”
Pensando bem, não só a vara de
pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca,
apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do
pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.
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