segunda-feira, 5 de maio de 2014

Conclusões de Aninha

Cora Coralina


Cora Coralina* por José Martins dos Reis

Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. 
Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. 
Perguntou, indagou especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar.
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
“A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar.”
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.

 *Cora Coralina (Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas) 20-08-1889 a 10-04-1985



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