Mário Quintana
Quando completei quinze anos, meu
compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até
ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.
A Coisa
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
Dos Leitores
Há leitores que acham bom o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que
poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas
espécies irrita mais.
Dos Livros
Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os
leitores.
A Voz
Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas
as outras.
Sinônimos
Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.
Sonho
Um poema que ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração.
Veneração
Ah, esses livros que nos vêm às mãos, na Biblioteca Pública e que nos enchem os dedos de poeira. Não reclames, não. A poeira das bibliotecas é a verdadeira poeira dos séculos.
Pensamentos extraídos
do livro “Do Caderno H”,
Editora Globo - Porto
Alegre, 1973, págs. diversas.
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