O poema de Carlos Drummond de
Andrade, “Lembrança do Mundo Antigo”, foi lido durante cerimônia da realização
da primeira fase de um memorial dedicado aos passageiros e tripulantes do Voo
93, que caiu no dia 11 de setembro de 2001, depois que seus quarenta
passageiros e tripulantes enfrentaram os sequestradores. O texto de Drummond
foi lido está abaixo...
Lembrança do Mundo Antigo
Clara passeava no jardim com as
crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China,
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China,
tudo era tranquilo em redor de
Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo.
Mas passeava no jardim, pela manhã!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo.
Mas passeava no jardim, pela manhã!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!
Carlos Drummond de Andrade
“Sentimento do Mundo”, pág 69 (Editora Record)
publicado em 1940.
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