quinta-feira, 8 de maio de 2014

Histórias do Doutor Getúlio Vargas-2



Getúlio Vargas por Brito

Þ Quando os jornais noticiaram, logo depois de 30, a possibilidade de os Estado Unidos penhorarem o ouro brasileiro depositado lá, para pagamento da nossa dívida externa, Getúlio ficou irritadíssimo. Chega um amigo de Nova York e vai conversar com ele:
- Getúlio, tu precisas ir lá. Os Estados Unidos excedem em tudo que possa imaginar. Nova York é uma cidade ciclópica e tentacular, alguma coisa de inacreditável pela grandeza, pelo progresso.
Getúlio ouvia em silêncio, charuto na boca:
- Nada disso. O cérebro deles é de cimento, chiclete e matéria plástica.
E nunca foi lá. Quando, na guerra, Franklin Roosevelt quis conversar com ele, teve de vir ao Brasil, de cadeira de rodas.

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Þ Às vésperas do dia 24 de agosto de 1954, quando se matou para impedir que 64 fosse antecipado em dez anos, conversava uma noite, desalentado, com José Américo de Almeida, seu Ministro de Viação, e lhe diz:
- Impossível governar este país. os homens de verdadeiro espírito público vão escasseando cada vez mais.
- Presidente, o que é que o senhor acha dos homens de seu governo?
- A metade não capaz de nada e a outra metade é capaz de tudo.

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Þ Um amigo criticava Ricardo Jafet (cunhado de Paulo Maluf):
- Presidente, nos primeiros encontros, no início da campanha eleitoral, Jafet parecia o homem mais desinteressado do mundo. não pedia nada em troca de sua ajuda. Cansava-se de dizer que era apenas um admirador e lutava como patriota pela volta do senhor ao poder. Depois, quando o senhor lhe entregou o Banco do Brasil, ele revelou seus verdadeiros intuitos.
- Eu sempre desconfio muito daqueles que nunca me pedem nada. Os que sentam à mesa sem apetite são os que mais comem.

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Þ Quando Osvaldo Aranha era ministro da Fazenda. e João Goulart, do Trabalho do segundo governo Vargas, os dois eram candidatos à presidência da República. Aranha foi a Getúlio.
- Tu me garantiste que eu seria o candidato à tua sucessão.
- E és, Osvaldo. não duvides de minha palavra.
- Mas o Jango ainda há pouco me garantiu que tu deste tua palavra a ele e que ele será o teu candidato. afinal, eu ou ele?
- Os dois Osvaldo. Os dois. Não sei desgostar os meus amigos

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Þ No dia 23 de agosto de 54, véspera do suicídio, Benjamim Vargas, o irmão, vai ao catete e começa uma longa conversa, analisando os quase quatro anos do segundo governo e o crescimento da crise política. Getúlio ouvia de olhos fechados, charuto na boca. Tira o charuto, enrola a fumaça.
- Bejo, e sabia de tudo. Sempre soube de tudo. Só não adivinhei o resto.

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Þ Uma mulher chegou perto de Getúlio, chorando:
- Presidente, meu marido morreu. estou precisando de um emprego.
- Como é que ele deixou a senhora e os filhos?
- Muito mal, presidente. Trabalhou a vida inteira, nunca pediu nada a ninguém, e deixou tudo o que tinha pata o IAPC (Era o INPS dos comerciários).
- O que ele deixou para o IAPC?
- Onze filhos, presidente. Todos menores, morrendo de fome.
Deu o emprego.

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Þ Catulo da Paixão Cearense, o grande poeta popular, vivia quase na miséria, lá no subúrbio do Méier, no Rio. Getúlio soube, mandou dar um emprego. Nomearam-no datilógrafo de terceira categoria, com 300 mil réis mensais. Catulo foi ao catete agradecer a Getúlio:
- Muito obrigado, presidente, pelo emprego, mas o diabo é que não sei escrever à máquina.
- Tudo se arranja. Você, por enquanto, só vá à repartição para assinar o ponto. Eu vou lhe oferecer uma máquina de escrever para ir praticando em casa. Tem preferência por alguma? Que tipo prefere?
- Preferir mesmo, presidente, prefiro é uma Singer. Uma Singer serve mais, presidente.
Era máquina de costura.

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Þ Era presidente, Amaral Peixoto, genro, governador do Estado do Rio. A oposição vivia dizendo que o Estado estava abandonado, estradas péssimas e Amaral só pensava em arranjar voto para o PSD.
Um domingo, Getúlio saiu de carro, discretamente, só com motorista e ajudante-de-ordem, foi dar uma volta lá. Chega a um posto de gasolina, em Niterói:
- Qual é a estrada para Campos?
- Tem duas.
- Mas qual é a melhor?
- A que o senhor quiser. Qualquer delas que o senhor tomar, vai ficar arrependido de não ter tomado a outra.
Getúlio voltou. Já sabia tudo.

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Þ Constituinte de 46, ia chegando na bancada de imprensa do Palácio Tiradentes, no Rio, Aparício Torelly, o famoso Barão de Itararé, que o combateu durante todo o Estado Novo. Cumprimentou:
- És tu o Barão?
- Ex-tubarão é Vossa Excelência.

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Þ Em 37, nomeou o general Daltro Filho, baiano, interventor do Rio Grande do Sul. Flores da Cunha ficou indignado, veio ao Rio:
- Que fizeste, Getúlio? Tu és um renegado.
- Ora, Flores, se um gaúcho pode governar o Brasil, por que um baiano não pode governar o Rio Grande?

(Do livro “Folclore Político”, de Sebastião Nery)




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