Às vezes, digo a mim mesmo: “Seu
destino é sem exemplo; você pode estimar aqueles que são felizes, e ninguém foi
ainda torturado como você". E, depois, leio qualquer poeta de tempos idos,
parecendo que lanço um olhar para dentro do meu próprio coração. Sofro tanto,
ai de mim! Teria havido, então, antes de mim, homens tão desgraçados?”
Wolfang Goethe – “Werther”
“Sou um homem livre - e preciso
da minha liberdade. Preciso estar sozinho. Preciso meditar na minha vergonha e
no desespero em retiro; preciso da luz do sol e das pedras do calçamento das
ruas sem companheiros, sem conversação, frente a frente comigo, apenas com a
música do meu coração como companhia. Que querem vocês de mim? Quando tenho
algo a dizer, ponho-o em letra de forma. Quando tenho algo a dar, dou-o. Sua
curiosidade indiscreta faz virar meu estômago! Seus cumprimentos humilham-me!
Seu chá envenena-me! Nada devo a ninguém. Seria responsável somente perante
Deus - se Ele existisse!”
Henry Miller –
“Trópico de Câncer”
“Desejo dar uma volta por aquelas
altas e áridas cordilheiras de montanhas onde se morre de sede e frio, por
aquela história "extratemporal", aquele absoluto de tempo e espaço
onde não existe homem, nem fera, nem vegetação, onde se fica louco de solidão,
com linguagem que é de meras palavras, onde tudo é desenganchado, desengrenado,
sem articulação com os tempos. Desejo um mundo de homens e mulheres, de árvores
que não falem (porque já existe conversa demais no mundo!) de rios que levem a
gente a lugares, não rios que sejam lendas, mas rios que ponham a gente em
contato com outros homens e mulheres, com arquitetura, religião, plantas,
animais - rios que tenham barcos e nos quais os homens se afoguem, mas não se
afoguem no mito e lenda e nos livros e poeira do passado, mas no tempo e no
espaço e na história. Desejo rios que façam oceanos como Shakespeare e Dante,
rios que não se sequem no vazio do passado. Oceanos sim! Tenhamos novos oceanos
que apaguem o passado, oceanos que criem novas formações geológicas, novas
vistas topográficas e continentes estranhos, aterrizadores, oceanos que
destruam e preservem ao mesmo tempo, oceanos nos quais possamos navegar, partir
para novas descobertas, novos horizontes. Tenhamos mais oceanos, mais
convulsões, mais guerras, mais holocaustos. Tenhamos um mundo de homens e
mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão,
ação, drama, sonhos, loucura, um mundo que produza êxtase e não peidos secos.
Creio hoje mais do que nunca é preciso procurar um livro ainda que de uma só
grande página: precisamos procurar fragmentos, lascas, unhas dos dedos dos pés,
tudo quanto contenha minério, tudo quanto seja capaz de ressuscitar o corpo e a
alma.”
Henry Miller
(26 de dezembro de 1891,
Nova Iorque,
EUA 7 de junho de 1980,
Pacific Palisades, Califórnia, EUA)
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