Péricles Andrade Maranhão nasceu
no Recife, PE, em 14 de agosto de 1924. Sabia fazer amigos, pois tinha o
sorriso ingênuo do bom-caráter. Escondia, no entanto, dentro de uma falsa
extroversão, sua natural timidez. A timidez do menino pobre do Recife, que
venceu no Rio de Janeiro, sonho almejado por muitos, mas alcançado por poucos.
Nas horas vagas compunha, de preferência, música de carnaval. Nas vésperas da
folia, saía a defender seus sambas, acompanhado de amigos, porque sozinho não
seria capaz de enfrentar os microfones dos clubes cariocas. Péricles,
infelizmente, nunca teve sucesso como compositor.
Aos 20 anos de idade Péricles
atravessava sua melhor fase artística. Seu personagem, porém, roubava-lhe a
glória.
‒ Este é o Péricles.
‒ Quem?
‒ O do “Amigo da Onça”.
‒ É mesmo? Puxa...
Dia 31 de dezembro de 1961 a um pouco das duas
horas da tarde, dirige-se ao armário e escolhe seu melhor terno branco, camisa
azul, gravata cinza-escura e sapatos de verniz. Veste-se elegantemente sem
pressa e, em lugar bem visível, deixa um bilhete:
“Estou completamente sóbrio e
não desejo culpar ninguém pelo meu gesto, apenas estou me sentindo
profundamente só. Os amigos, se assim posso chamá-los, estão em suas casas com
suas famílias, o que não acontece comigo, pois a única família que possuo,
minha querida mãe e irmã, estão em Recife. Sou profundamente sentimental e nunca
passei esta época sem uma palavra de carinho. Apenas
a solidão me levou a este gesto extremo. Talvez assim as coisas melhorem.”
A seguir, vedou todas as
aberturas, estendeu um lençol no chão e abriu o gás. Afixado na parede da cozinha,
outro bilhete:
“Cuidado, não risquem
fósforo, é gás.”
Então, aos trinta e sete anos,
encerrava-se ali a trajetória do mais ilustre e popular personagem da história
em quadrinhos brasileira.
Amigo da Onça
O famoso personagem foi criado
pelo cartunista pernambucano, em 1943, e publicado de 23 de outubro de 1943
a 3 de fevereiro de 1962. Os diretores da revista O Cruzeiro queriam criar
um personagem fixo e já tinham até o nome, adaptado de uma famosa anedota.
A anedota
Dois
caçadores conversavam em seu acampamento:
‒ O que você faria, compadre, se estivesse agora na
selva e uma onça aparecesse na sua gente?
‒ Ora,
compadre, eu dava um tiro nela.
‒ Mas
se você não tivesse nenhuma arma de fogo?
‒ Bom,
então eu matava ela com meu facão.
‒ E se
você estivesse sem o facão.
‒ Apanhava um pedaço de pau!
‒ E se
não tivesse nenhum pedaço de pau?
‒ Subiria na árvore mais
próxima!
‒ E se
não tivesse nenhuma árvore?
‒ Sairia correndo!
‒ E se
você estivesse paralisado pelo medo?
Então,
o outro, já irritado, retruca:
‒ Mas, afinal, compadre, você é meu amigo ou amigo da
onça?
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