O dia em que Porto
Alegre perdeu a sua inocência.
A tragédia rocambolesca desenrolada
anteontem, à rua dos Andradas, teve, ontem, pela manhã, na várzea de Gravataí,
o seu capitulo final. Foi um epílogo de sangue, emocionante e cheio de lances trágicos,
como fora o crime hediondo perpetrado pelos quatro bandidos. Para que o
desfecho fosse um verdadeiro final de tragédia, nada faltou. Os bandidos,
fechados num círculo de ferro, são varados a balas, e, depois, os cadáveres
transportados para a Chefatura de Policia acompanhados de extenso préstito,
composto de todas as autoridades civis e militares que tomaram parte na captura
dos criminosos, de grande número de forças que operaram em Gravataí e de populares.
Logo que se espalhou a notícia da morte dos ladrões e assassinos, uma multidão encheu
a rua dos Andradas. No número de mortos figura Alexander Grauberger, de 23 anos
de idade. Natural da Rússia, ali propagava, aos 20 anos incompletos, o
socialismo anárquico.
(Correio do Povo de 7
de setembro de 1911)
Crime da Rua dos Andradas
Morte de Alcides Brum - A tragédia da Rua dos
Andradas teve ontem o seu desfecho com a morte do Sr. Alcides Brum, a vítima da
crueldade assassina dos quatro ladrões desalmados.
O roubo - Na sala da 3ª delegacia,
procedeu-se, ontem, a verificação precisa do dinheiro e das joias que se
achavam em poder dos ladrões e foram apreendidos pelo Dr. Thompson Flores. O
arrolamento consta do seguinte: 100 liras papel; 32 moedas de cobre, todas
antigas; 23 pesos, papel uruguaio; diversas moedas de ouro; 738 pesos, papel
argentino; 160 libras
esterlinas; diversas moedas de prata; 9 relógios de ouro, 1 de prata; 1 de
níquel; 1 corrente de ouro; 1 pingente de brilhante; 1 corrente de metal. O
dinheiro e as joias foram recolhidos ao cofre da Chefatura de Polícia e deverão
ser hoje devolvidos ao Sr. Virgílio de Albuquerque, proprietário da casa de câmbio
assaltada.
(Correio do Povo de 8
de setembro de 1911)
Efetuaram-se ontem, pela manhã, as
cerimônias de encomendação e sepultamento do malogrado jovem Alcides Brum, vítima
da ferocidade dos quatro desalmados que assaltaram a casa de câmbios do Sr.
Virgilio Albuquerque, à Rua dos Andradas, n° 210. Às 9 horas da manhã,
saiu o féretro da casa mortuária, à rua coronel Fernando Machado n° 139,
para a Catedral, onde se realizou a encomendação. As bandas de música do 10°
Regimento de Infantaria e do 1° Batalhão da Brigada Militar executaram marchas fúnebres
durante o ato religioso. Findo este, foi o ataúde retirado da alterosa eça* e,
à mão, conduzido até a travessa 1° de Março, no Campo da Redenção, sendo as alças muito
disputadas. Chegando ali, foi ele colocado em carro de 1ª classe da irmandade
de São Miguel e Almas e transportado para o cemitério.
* nome antigo do estrado onde se
colocavam caixões para serem os corpos velados.
(Correio do Povo de 9
de setembro de 1911)
O livro: capas da 1ª e da 2ª edição
A foto batida logo após as mortes dos anarquistas
Stefan, Pablo,
Alexander e Feodor
Da esquerda para a
direita:
Stefan Sedoreski (alfaiate);
Pablo Pavlowsky (pedreiro);
Alexander Grauberger (açougueiro);
Feodor (operário).
Na madrugada de 8 do corrente, depois
de sepultados os quatro cadáveres, penetraram no cemitério, apressadamente,
dois indivíduos, um, loiro e baixo; o outro, moreno e alto - e
dirigiram-se para o local onde o coveiro já terminava seu mister, lançando a
ultima pá de terra sobre os corpos dos protagonistas da tragédia da rua dos
Andradas. Ali chegados perguntaram ao coveiro se não lhes era possível ver os
cadáveres. Recebendo resposta negativa, um deles segredou ao outro: “Está tudo
perdido! Não arranjamos mais nada!”. E retiraram-se. No mesmo dia, à tarde,
apareceu no campo santo a mãe de Alexander, que depositou, sobre a sepultura
deste, uma grinalda de flores naturais. Ia ela sozinha, e trajava de preto. No
dia seguinte, pela manhã, penetraram no cemitério dois indivíduos, um dos
quais, o moreno foi reconhecido como sendo um dos que ali haviam estado na
madrugada do enterramento e tomaram a direção do local em que se acham
sepultados os assassinos de Alcides Brum. Após a retirada desses dois indivíduos,
verificou-se que as quatro sepulturas se achavam cobertas de flores colhidas
ali mesmo, nos canteiros do cemitério. À noite desse dia, ainda se conservavam
sobre as sepulturas, somente aquelas flores. Na manhã seguinte, porém, novas
flores foram vistas sobre a terra ainda fresca das covas; e diversos pés de
simbólicas sempre-vivas, arrancados de outras sepulturas, estavam plantados ao
redor das mesmas, em renques simétricos. As autoridades policiais, tendo
conhecimento desse fato, tomaram providências tendentes a averiguar se se
tratava, no caso, de parentes que ali fossem levar o preito de sua saudade, ou
de indivíduos, sobre os quais pudesse pesar a suspeita de conivência no crime.
Quanto ao resultado de tais pesquisas, a polícia tem mantido absoluta reserva.
Correio do Povo de
19.09.1911
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