segunda-feira, 12 de maio de 2014

O primeiro palavrão da TV brasileira



Mário Lago por Loredano

No livro “Mário Lago - Boemia e política”, de Mônica Velloso, Fundação Getúlio Vargas Editora, é contada a história do primeiro palavrão, dito de forma intempestiva e fora do script, por um ator da jovem televisão brasileira.

“Ainda relembrando seus primeiros tempos na tevê, na década de 50, Mário recorda-se do primeiro palavrão. Foi em São Paulo, no programa Teatro de vanguarda, que lançou o teleteatro. O palavrão não constava no script. Fora um desabafo espontâneo do ator. O que era comum numa gravação ao vivo.

A peça começava com Dionísio de Azevedo*, que interpretava um rico fazendeiro. Ele abria um envelope, do qual retirava a carta de um caça-dotes pedindo a mão de sua filha em casamento. Conhecedor da fama do rapaz, ele se enfurece e, no auge da raiva, espetava a carta na parede com um punhal. Mas o contrarregra resolveu fazer uma brincadeira e não pôs a carta no envelope. Dionísio precisa lê-la para que o público entendesse a razão de sua fúria. Naquela época, o ator não costumava decorar o texto de cartas. Quem as escrevia era contrarregra. Não encontrando a carta e não sabendo o texto, Dionísio entrou em pânico. Começou a improvisar:

- Canalha! Miserável! Querendo casar com minha filha por causa do meu dinheiro!

O contrarregra achou que a brincadeira já tinha ido longe demais e, esgueirando-se por trás das câmaras, passou a carta para Dionísio. Mas este, já com os nervos à flor da pele, não conseguiu mais se controlar:

- Vá à merda!

Foi um escândalo. Os telespectadores começaram a telefonar para a emissora protestando contra o palavrão. A censura queria justificativas. Cassiano Gabus Mendes, o diretor artístico do programa, tentou contornar a situação explicando que tudo não passava de um equívoco. O Dionísio teria dito:

- Não herda!

E como não se podia provar nada naquele tempo em que os programas ainda não eram gravados, a história ficou por isso mesmo...”


*Dionísio Azevedo, nome artístico de Taufik Jacob, (Conceição da Aparecida, MG, 4 de abril de 1922 - São Paulo, SP, 11 de dezembro de 1994) foi um ator e diretor brasileiro. Participou do filme “O Pagador de Promessas”, de 1962, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes.


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