Mário Lago por Loredano
No livro “Mário Lago - Boemia e
política”, de Mônica Velloso, Fundação Getúlio Vargas Editora, é contada a
história do primeiro palavrão, dito de forma intempestiva e fora do script, por
um ator da jovem televisão brasileira.
“Ainda relembrando seus primeiros
tempos na tevê, na década de 50, Mário recorda-se do primeiro palavrão. Foi em São Paulo , no programa Teatro de vanguarda, que lançou o
teleteatro. O palavrão não constava no script.
Fora um desabafo espontâneo do ator. O que era comum numa gravação ao vivo.
A peça começava com Dionísio de
Azevedo*, que interpretava um rico fazendeiro. Ele abria um envelope, do qual
retirava a carta de um caça-dotes pedindo a mão de sua filha em casamento. Conhecedor
da fama do rapaz, ele se enfurece e, no auge da raiva, espetava a carta na
parede com um punhal. Mas o contrarregra resolveu fazer uma brincadeira e não
pôs a carta no envelope. Dionísio precisa lê-la para que o público entendesse a
razão de sua fúria. Naquela época, o ator não costumava decorar o texto de
cartas. Quem as escrevia era contrarregra. Não encontrando a carta e não
sabendo o texto, Dionísio entrou em pânico. Começou a improvisar:
-
Canalha! Miserável! Querendo casar com minha filha por causa do meu dinheiro!
O contrarregra achou que a
brincadeira já tinha ido longe demais e, esgueirando-se por trás das câmaras,
passou a carta para Dionísio. Mas este, já com os nervos à flor da pele, não
conseguiu mais se controlar:
- Vá à
merda!
Foi um escândalo. Os telespectadores
começaram a telefonar para a emissora protestando contra o palavrão. A censura
queria justificativas. Cassiano Gabus Mendes, o diretor artístico do programa,
tentou contornar a situação explicando que tudo não passava de um equívoco. O
Dionísio teria dito:
- Não
herda!
E como não se podia provar nada
naquele tempo em que os programas ainda não eram gravados, a história ficou por
isso mesmo...”
*Dionísio Azevedo, nome
artístico de Taufik Jacob, (Conceição da Aparecida, MG, 4 de abril de 1922 - São
Paulo, SP, 11 de dezembro de 1994) foi um ator e diretor brasileiro.
Participou do filme “O Pagador de Promessas”, de 1962, ganhador da Palma de
Ouro do Festival de Cannes.
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