quinta-feira, 8 de maio de 2014

O X da questão

     

- Como é? Você não se manifesta?

A pergunta era do S. Foi reforçada pelo K. Aí, humilde, o X falou:

- Vocês não entenderam bem o meu caso. Eu vou explicar... Eu estou hesitando não é por medo ou covardia... É que eu não tenho moral para protestar...

Então, o X, humildemente, contou que ele também era culpado de roubar o som de seus companheiros. Os dois não acreditaram, ele provou. Escreveu no chão a palavra exame.

- Quer ler, por obséquio? - disse ele ao S.

- Exame.

- É de Z ou de X o som na segunda sílaba?

- De Z, disse o S.

Rapidamente o X escreveu novas palavras. Exemplo... Exercício... Executivo... Exaustivo... Exagero... Exigência...

- A letra sou eu... O som é meu ou do Z?

Os dois baixaram os olhos.

O X se afastou, lentamente, subiu pela parede e, lá do alto, escreveu uma palavra só: máximo.

- De pra ler aí de baixo? – perguntou ele ao S.

- Dá.

- Então leia. Leia devagar, sílaba por sílaba.

O S começou:

- Má...

Nisso percebeu que ele também estava sendo roubado. O X da segunda sílaba não soava nem como o de e de xícara, nem como o de sexo ou anexo.

- Ah! letrinha miserável! Eu vou te ensinar! – esbravejou ele, principalmente porque o X sorria, lá de cima.

- Hoje você não me pega, companheiro. Deixa pra outra ocasião... Talvez na próxima...

E caprichou bem na última palavra.

(Excertos de As Letras Falantes, de Orígenes Lessa, Edições de Ouro)

Eu acho tão engraçado
O “x” mudar de valor
Parece até camaleão
Que sempre troca de cor.

Na maioria das vezes
O “x” soa como “che”:
Xerxes, xícara, xarope,
Xadrez e caxinguelê.

Em exame, exílio, exato,
Ele tem o som de .
Esta letra é mais teimosa
Do que o Saci Pererê.

Em muitos casos o “x
Tem o valor de cs:
Sexo, fixo, anexo,
Desta maneira se lê.
É a letrinha mais indócil
Entre todas do á-bê-cê.
Em defluxo, trouxe, auxílio
Sua pronúncia é 

Falta ainda a sibilante
Que eu digo meio assobiado.
Reparem nestes exemplos:
Expulso, extrato, explicado.

Mas apesar de tudo isto,
O “x” eu vou defender:
Quem conhece os seus “valores”
Demonstra que sabe ler!


(Walter Nieble de Freitas, 
em Manual Pedagógico para Escola Moderna.



Um comentário: