quinta-feira, 8 de maio de 2014

Humor de Cornélio Pires

Poesia e causo caipira de Cornélio Pires
  


Sodade

Sodade é uma dor que dá
mas num é dor de doe
é vontade de alembrá
é vontade de esquecê
é dor de dente, machuca
mas onde dói num se vê
e a gente pega e cutuca
pra num deixar de doer.

Idear de caboclo


“Ai, seu moço, eu só quiria
Pra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.

Porva, espingarda e cutia,
Um facão fala-verdade,
E uma viola de harmonia
Pra chorá minha sodade.

Um rancho na bêra d’água
Vara de anzó, pôca mágua,
Pinga boa e bão café...

Fumo forte de sobejo,
E pra compretá meu desejo,
Cavalo bão e... muié!”


          Um grã-fino, a passeio pelo interior, alugou um cavalo e saiu percorrendo as corrutelas, indo parar na casa de um caipira. Bem acolhido, entrou e começou a examinar a sala. Ao notar que na parede havia numerosas fotografias, perguntou ao dono da casa:
          - De quem é esse retrato?
          - É retrato de mea mãe...
          - E aquele outro?
          - Aquele é meo pai...
       Vendo a fotografia de um burro bem escanelado, com sete palmos de altura, arreios prateados, rédea bambeada, peitoral enfeitado, o visitante provocou:
          - E esse também é da família?
          - Nhor, não. Mercê tá enganado. Esse não é retrato.
          - Que é então?
          - Espêio...
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(Cornélio Pires nasceu em Tietê, SP, em 13.07.1884 e morreu em São Paulo, SP, em 17.02.1958)




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