Poesia e
causo caipira de Cornélio Pires
Sodade
Sodade é uma dor que dá
mas num é dor de doe
é vontade de alembrá
é vontade de esquecê
é dor de dente, machuca
mas onde dói num se vê
e a gente pega e cutuca
pra num deixar de doer.
Idear de caboclo
“Ai, seu moço, eu só quiria
Pra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.
Porva, espingarda e cutia,
Um facão fala-verdade,
E uma viola de harmonia
Pra chorá minha sodade.
Um rancho na bêra d’água
Vara de anzó, pôca mágua,
Pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo,
E pra compretá meu desejo,
Cavalo bão e... muié!”
Um grã-fino, a passeio pelo interior,
alugou um cavalo e saiu percorrendo as corrutelas, indo parar na casa de um
caipira. Bem acolhido, entrou e começou a examinar a sala. Ao notar que na
parede havia numerosas fotografias, perguntou ao dono da casa:
- De quem é esse retrato?
- É retrato de mea mãe...
- E aquele outro?
- Aquele é meo pai...
Vendo a fotografia de um burro bem
escanelado, com sete palmos de altura, arreios prateados, rédea bambeada,
peitoral enfeitado, o visitante provocou:
- E esse também é da
família?
- Nhor, não. Mercê tá
enganado. Esse não é retrato.
- Que é então?
- Espêio...
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(Cornélio Pires
nasceu em Tietê, SP, em 13.07.1884 e morreu em São Paulo , SP, em
17.02.1958)
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