Versos de 1959 para defender um agricultor
que surrou a mulher gastadeira.
que surrou a mulher gastadeira.
O arquivo pessoal do juiz Afif Simões
Neto, da 8° Vara Cível de Porto Alegre, conserva uma
preciosidade. O pai dele, advogado Afif Jorge Simões Filho, militante em São Sepé , gostava de
fazer defesas em versos, até pouco antes de falecer em 1986.
Em um de seus primeiros trabalhos,
ele rimou para defender Egídio Rodrigues Siqueira, um agricultor que surrara a
mulher.
O desentendimento entre o casal
aconteceu no ano de 1959. Egídio estava trabalhando numa empreitada de arroz na
Serra e, quando voltou para casa, embrabeceu com a esposa , pois esta,
valendo-se de sua ausência, fizera diversas compras supérfluas numa venda do 2°
Distrito de São Sepé, que ficaram muito além das possibilidades financeiras do
réu. Egídio foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 129, caput, do
Código Penal.
Leia a defesa rimada,
de 50 anos atrás.
Mais uma cena de briga,
Entre um casal de campanha
Mais um marido que espanca
Mais uma esposa que apanha.
O réu espancou a esposa,
Porque esta, na sua ausência,
Fez uma conta comprida
No bodegão da querência.
Ao regressar da empreitada,
Todo saudoso e faceiro,
Caiu de costas ao ver
As notas do bodegueiro.
Eram brincos e teteias,
Riscados, lenço e chapéu,
Para os parentes da esposa
Tudo por conta do réu.
Como da plata que trouxe
Não lhe sobrasse um vintém,
Egídio exemplou a esposa,
E, agindo assim, agiu bem.
Quem de nós não quis um dia,
Fazer o mesmo que fez,
O réu Egídio Siqueira.
É bruto cortar arroz
metido no lodaçal,
E deixar todo o salário
No bolicho do Sinval.
Tá certo que se gastasse
Com erva, farinha e pão,
Mas não com brincos de orelha
E coisas sem precisão.
Mas esposa arrependeu-se,
Conforme disse ao depor,
De haver trazido à justiça
O marido espancador.
Se ela diz conformada,
E arrependida da queixa,
Não vamos dizer: prossegue
Quando ela mesma diz: deixa.
Pobre réu. Estou convicto
De sua santa inocência.
Mas que aproveite e aprenda
esta lição de experiência.
Se outra vez surrar a esposa,
(Este é o pedido que eu faço)
Que surre de manso e de leve,
Sem deixar sinal de laço.
Ou então que surre forte,
Com toda força e vontade,
De modo que ela nem possa
Vir dar parte na cidade.
(Após colher os
depoimentos da vítima e do réu e de testemunhas,
o juiz da causa
absolveu o agricultor.)
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