sexta-feira, 9 de maio de 2014

Sobre a morte e o morrer



Queridos! Falar sobre a morte sempre foi, na nossa cultura ocidental, um tabu quase insuperável, lembro bem que, ao acompanhar uma pessoa que já se encontrava em estado terminal, a família me pediu, antes de atendê-lo, que não falasse que sabiam que ele estava morrendo e, para minha surpresa, ao atender o paciente, o mesmo me pediu para eu não dizer a sua família que ele sabia que estava morrendo, um verdadeiro pacto do silêncio, no qual fui utilizada como escape de emoções desse assunto tão “proibido” entre nós ocidentais.

Mas, dentre todas as verdades de nossas vidas, essa é a Verdade de nossas vidas, e, afinal, de qual morte estaria meu paciente e sua família falando? Isso nunca poderei saber com toda certeza, pois, mas do que a finitude do corpo físico, lidamos também com a separação de relações construídas em uma longa existência, com a separação do olhar, do cheiro, do toque, do compartilhar, é essa separação que nos amedronta e que nos causa um sentimento que só tem nome em nossa língua, saudade.

Agradeço muito as oportunidades que já tive de acompanhar pacientes até o fim do corpo físico e que me fizeram entender melhor, nas suas finitudes, as "Perdas necessárias" de nossas existências.

Encontrei em meus documentos profissionais essa declaração dos direitos da pessoa que está morrendo e gostaria de compartilhar com vocês para esclarecer que nossa cidadania nos acompanha até nosso último sopro de vida.

Abraços em todos, Lara.*

Tenho  o direito de ser tratado como pessoa humana até o momento da minha morte.

Tenho o direito de manter a esperança, por mais ilusório e inconsciente que seja seu caráter.

Tenho o direito de ser cuidado por aqueles que conseguem manter vivo o sentimento da esperança, por mais inconstante que ele possa ser.

Tenho o direito de expressar meus sentimentos e emoções sobre a minha morte que se aproxima, da maneira que melhor me aprouver.

Tenho o direito de participar de todas as decisões que digam respeito ao meu caso.

Tenho o direito de esperar por constante atenção de médico e enfermeira, mesmo que as metas de "cura" tenham de ser transformadas em finalidade de "conforto".

Tenho o direito de não morrer sozinho.

Tenho o direito de estar livre da dor.

Tenho o direito de ver respondida, com toda sinceridade, qualquer pergunta que possa fazer.

Tenho o direito de não ser enganado.

Tenho direito de contar com ajuda da minha família e para ela, no sentido da aceitação de minha morte.

Tenho o direito de morrer em paz e dignidade.

Tenho o direito de manter minha individualidade e de não ser julgado por minhas decisões, que podem ser contrárias às crenças de outras pessoas.

Tenho o direito de discutir e aumentar minhas experiências religiosas e/ou espirituais, seja qual for o seu significado para outras pessoas.

Tenho o direito de esperar que a santidade do corpo humano seja respeitada após a morte.

Tenho o direito de ser cuidado por pessoas atenciosas, sensíveis, experimentadas, que procurem compreender minhas necessidades e que sejam capazes de ter alguma satisfação em me ajudar a enfrentar a morte.

(Conselho educacional de Assistência do Sudoeste Michigan-EUA)

* Lara é filha do Paraquedista, Precursor e Forças Especiais, Genival Montenegro Guerra, da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército brasileiro, de saudosa memória, hoje formada em psicologia.

(Ly Adorno de Carvalho)




2 comentários:

  1. Lindíssimo trabalho de muita sensibilidade ..... parabéns !!

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  2. Obrigado pela gentileza do comentário, amigo Pedro Pail.


    Nilo da Silva Moraes

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