Queridos! Falar sobre a morte sempre
foi, na nossa cultura ocidental, um tabu quase insuperável, lembro bem que, ao
acompanhar uma pessoa que já se encontrava em estado terminal, a família me
pediu, antes de atendê-lo, que não falasse que sabiam que ele estava morrendo
e, para minha surpresa, ao atender o paciente, o mesmo me pediu para eu não
dizer a sua família que ele sabia que estava morrendo, um verdadeiro pacto do
silêncio, no qual fui utilizada como escape de emoções desse assunto tão
“proibido” entre nós ocidentais.
Mas, dentre todas as verdades de
nossas vidas, essa é a Verdade de
nossas vidas, e, afinal, de qual morte estaria meu paciente e sua família
falando? Isso nunca poderei saber com toda certeza, pois, mas do que a finitude
do corpo físico, lidamos também com a separação de relações construídas em uma
longa existência, com a separação do olhar, do cheiro, do toque, do
compartilhar, é essa separação que nos amedronta e que nos causa um sentimento
que só tem nome em nossa língua, saudade.
Agradeço muito as oportunidades que
já tive de acompanhar pacientes até o fim do corpo físico e que me fizeram
entender melhor, nas suas finitudes, as "Perdas necessárias" de
nossas existências.
Encontrei em meus documentos profissionais
essa declaração dos direitos da pessoa que está morrendo e gostaria de
compartilhar com vocês para esclarecer que nossa cidadania nos acompanha até
nosso último sopro de vida.
Abraços em todos,
Lara.*
Tenho
o direito de ser tratado como pessoa humana até o momento da minha
morte.
Tenho o direito de
manter a esperança, por mais ilusório e inconsciente que seja seu caráter.
Tenho o direito de ser
cuidado por aqueles que conseguem manter vivo o sentimento da esperança, por
mais inconstante que ele possa ser.
Tenho o direito de
expressar meus sentimentos e emoções sobre a minha morte que se aproxima, da
maneira que melhor me aprouver.
Tenho o direito de participar de
todas as decisões que digam respeito ao meu caso.
Tenho o direito de
esperar por constante atenção de médico e enfermeira, mesmo que as metas de
"cura" tenham de ser transformadas em finalidade de
"conforto".
Tenho o direito de não morrer
sozinho.
Tenho o direito de estar livre da
dor.
Tenho o direito de ver
respondida, com toda sinceridade, qualquer pergunta que possa fazer.
Tenho o direito de não ser enganado.
Tenho direito de contar
com ajuda da minha família e para ela, no sentido da aceitação de minha morte.
Tenho o direito de morrer em paz e
dignidade.
Tenho o direito de
manter minha individualidade e de não ser julgado por minhas decisões, que
podem ser contrárias às crenças de outras pessoas.
Tenho o direito de
discutir e aumentar minhas experiências religiosas e/ou espirituais, seja qual
for o seu significado para outras pessoas.
Tenho o direito de
esperar que a santidade do corpo humano seja respeitada após a morte.
Tenho o direito de ser
cuidado por pessoas atenciosas, sensíveis, experimentadas, que procurem
compreender minhas necessidades e que sejam capazes de ter alguma satisfação em
me ajudar a enfrentar a morte.
(Conselho educacional
de Assistência do Sudoeste Michigan-EUA)
* Lara é filha do Paraquedista,
Precursor e Forças Especiais, Genival Montenegro Guerra, da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército brasileiro, de saudosa memória,
hoje formada em psicologia.
(Ly Adorno de Carvalho)
Lindíssimo trabalho de muita sensibilidade ..... parabéns !!
ResponderExcluirObrigado pela gentileza do comentário, amigo Pedro Pail.
ResponderExcluirNilo da Silva Moraes