(Para Manoel Raimundo Soares)*
(1936-1966)
Um homem morreu.
Mataram um homem!
Batido
queimado
rasgado
ferido,
um trapo jamais!
Ao álcool
e à água,
ao fogo
e à terra,
sua boca sorriu.
A vida tão doce, a música, o
livro,
o beijo de amor,
a terna amizade
um dia afundou
no dia em que um homem
batido
queimado
rasgado
ferido
foi morto!
Um homem sonhou.
Mataram um homem!
Os olhos que a vida
dourou de esperança,
a boca que um dia
cantou o futuro,
as mãos que forjaram
palavras de aço,
imóveis estão.
Os olhos que as feras
encheram de prantos,
a boca que as bestas
não descerraram,
as mãos que os algozes
prenderam às costas
desatar-se-ão.
Um homem morreu.
Mataram um homem!
(Não esqueçam,
entrementes,
que o sangue
é semente!)
Do livro inédito “A
palavra exata” de Carmen Sílvia
*Sargento assassinado sob tortura no Regime Militar (1964-1985)
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