domingo, 22 de junho de 2014

Dicionário Gaúcho



Imaginem que um gaúcho nascido e criado lá pelas bandas da coxilha de Santa Tecla, perto de Bagé, bata com os costados em Varjota, interior do Ceará, e para o auto em frente a um bar onde várias pessoas estão tomando umas e outras e ele então se dirija indistintamente a grupo:

- Buenas tardes, indiada macanuda. Estou meio entupigaitado. Venho gauderiando por essas bandas, campeando um guasca largado e mui buenacho. Mesmo parando rodeio nas ideias, não sei onde fica a biboca do vivente. Quem sabe se algum chiru conhece o taura. Ele vive com as canjicas de fora, é meio petiço, rengo e melenudo meio zaino, meio hosco, está sempre na tiorga e atende pelo nome da Gaudêncio?

Com certeza os meus amigos do Ceará lançariam um olhar de revesgueio para o recém-chegado, já com a mão na peixeira (carneadeira para nós) e prontos para a briga. No entanto, o amigo do Gaudêncio só queria dizer o seguinte:

- Boa tarde, moçada simpática. Estou meio desorientado. Venho andando por estes lados procurando um valentão muito alegre e bom amigo. Mesmo tentando me lembrar, não sei onde fica a casa da criatura. Quem sabe se algum homem mais velho conhece o valente. Ele vive rindo, é meio baixo, puxa de uma perna, e tem o cabelo muito comprido e castanho, é bem, é bem moreno, está sempre bêbado e se chama Gaudêncio?

Esses e outros termos estão no Dicionário Gaúcho (Termos, expressões, adágios, ditados e outras barbaridades) de Alberto Juvenal de Oliveira.

          E quem é Alberto Juvenal de Oliveira?

*Ele nasceu em Júlio de Castilhos, no primeiro dia do ano de 1930. Seu nome, Alberto Juvenal de Oliveira. Aos quatro anos perde a mãe. Sua infância foi despertada como as plantas que crescem livres pelos campos da querência: na fazenda de sua avó paterna, privando com usos, costumes e histórias que povoam os galpões do Rio Grande. Essa magia viria mais tarde florescer num colar de recuerdos terrunhos, mostrando o atavismo legado pela terra gaúcha.

Cursou o primário na cidade de Cruz Alta e aos 14 anos vai pata Passo Fundo morar com o pai, para ajudar nas despesas da casa, changueando sem desprestigiar seus invernos!

Apresentação do autor

Aos 18 anos sentou praça na cidade do Rio de Janeiro, no Corpo de Paraquedistas do Exército Brasileiro, dando baixa como 2° Tenente da reserva. Foi de escriturário de banco a diretor de instituição financeira. Completou seus estudos no turno da noite, e hoje é dono de uma bem-sucedida empresa de publicidade, com seus quatro filhos. Nas horas vagas, Juvenal estuda inglês, francês,  e, é claro, por sua sensibilidade nativa, a arte musical não poderia  ficar ausente, e a faz brotar através dos botões de uma cordeona. O dicionário chegou após quatro anos de pesquisa. Era o manancial crioulo que retornava da sonora infância para saciar a sede das lembranças do pago.
- Quem não conhece não encontra razões para amar!...
Teu dicionário, Juvenal, é uma vertente que sacia a sede dos que buscam sabedoria pelos caminhos da terra!... Colocando “sóis nas nossas  sombras”.
Parabéns, “Luzeiro Terrunho! Parabéns!

Glênio Fagundes*

*Músico, poeta, cantor e apresentador de rádio e televisão, é um dos ícones máximos do regionalismo rio-grandense, autor de livros e discos de sucesso.

E como diz Jaime Caetano Braun, na introdução do dicionário

Se não houver campo aberto
lá em cima,
quando eu me for,
um galpão acolhedor,
de santa-fé, bem coberto,
um pingo pastando perto,
só de pensar me comovo,
eu juro, pelo meu povo,
nem todo o céu me segura,
retorno a velha planura
pra ser gaúcho de novo.

* Alberto Juvenal de Oliveira, Pqdt 222, fez o Curso Básico Paraquedista no 1950/3 como 3° Sgt. Num encontro de veteranos paraquedistas, permutamos as nossas obras. (Almanaque pelo Dicionário) que estou lendo com muita atenção e carinho.

P.S. O Juvenal tem outras histórias saborosas para contar, mas vamos deixar assim...

E-mail para a compra do livro: Juvenal@savep.com.br


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