quarta-feira, 11 de junho de 2014

Fatos da história do Brasil



O Destino do Imperador

Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 42.

Em uma das reuniões preparatórias do movimento republicano, a 6 de novembro, em casa de Benjamim Constant, assentavam-se planos quando Benjamim, de repente, indagou:
- E que faremos do "nosso Imperador"?
Um silêncio profundo foi a resposta. A figura bondosa e justa do monarca infundia respeito a todos aqueles conspiradores, impedindo uma resolução. Quebrou, porém, esse silêncio, o tenente Manuel Inácio.
- Exila-se! - disse.
- E se resistir?
- Fuzila-se! - declarou o tenente.
Todos se levantaram, numa reprovação,
- Oh! fez Benjamim, refletindo a repugnância de todos. - O senhor é sanguinário!
E entre a aprovação geral:
- Ao contrário, devemos cercá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício, e muito digno!

Gatunagem Gloriosa

Rodrigo Otávio - Revista da Academia Brasileira de Letras n° 27.

Nos primeiros dias do século possuía a Academia de Letras na sua sede, no escritório de Rodrigo Otávio, uma coleção de retratos metidos em molduras modestas, e que eram os de Machado de Assis, Taunay, Joaquim Nabuco, e outros, formando galeria. Por esse tempo, era costume da Polícia, para prevenir o público, expor nas estações da Central, nos subúrbios, os retratos de todos os batedores de carteiras mais temíveis da cidade.
Um dia, vai à sede da Academia uma senhora, constituinte de Rodrigo Otávio, levando em sua companhia uma filha de cinco anos. A pequena olha, examina os retratos, e, de repente, voltando-se para a moça:
- Mamãe, quem são aqueles gatunos?

Lição de Heroísmo

Tobias Barreto - "Pesquisas e depoimentos", pág. 240.

Preso na noite de 15 para 16 de novembro, foi o visconde de Ouro-Preto conduzido ao quartel do 1° Regimento, onde, fatigado, adormeceu. Alta noite, entra no compartimento um oficial, o tenente Mena Barreto, que lhe grita:
- Acorde, e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro-Preto pôs-se de pé.
- Só se acorda um homem para fuzilar, - retorquiu: - mas não para o avisar de que vai ser fuzilado.
E acentuou:
- O senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!

Demitindo um Ministro

Serzedelo Correia - "Páginas do Passado", pág. 15.

Prevenido com Rodrigues Alves, o marechal Floriano resolveu pô-lo fora do ministério, onde ocupava a pasta da Fazenda. Preferia, porém, que ele se demitisse e, num dos despachos coletivos, despachou com todos os ministros. Ao chegar a vez de Rodrigues Alves, levantou-se, foi para o interior da casa e não voltou mais. No despacho seguinte, reproduzia-se a cena. Até que, no terceiro, voltando-se para os outros ministros, declarou-lhes:
- Tenho uma triste notícia a dar-lhes.
E com a maior seriedade:
- Não é que o nosso bom amigo Rodrigues Alves quer deixar-nos, pedindo demissão?

Teias de Aranha

Informação do professor Raul Pederneiras

Fiscal de uma casa de penhores, Emílio de Menezes ia uma vez por mês ao Tesouro receber os magros vencimentos do cargo. E ao entrar ali, encontrava sempre um indivíduo obsequioso, que chorava as suas misérias, as suas moléstias, a sua fome, até que lhe arrancava uma cédula de cinco mil réis. Certa vez, o "mordedor" foi mais longe nas suas lamentações.
- O senhor não imagina, - gemia, - o que eu tenho passado. Basta dizer-lhe que há quinze dias não como!
- O que, homem? - espantou-se o poeta.
E para os funcionários:
- Este camarada com certeza já está com teias de aranha no céu da boca!...

Franqueza de Marido

Osório Duque-Estrada - Discurso da Academia Brasileira de Letras.

Passava Sílvio Romero, uma tarde, pela Avenida, quando viu grande aglomeração à porta de um cinema. Perguntou O que era, e um cavalheiro explicou-lhe, indicando um violinista:
- Este homem comprometeu-se a tomar parte no nosso concerto de benefício, e recusa-se agora, por imposição da mulher, de quem tem medo!
Silvio varou a multidão, indo tomar o "medroso" pelo braço.
- Coragem, amigo! - Não se importe! - disse-lhe.
E com a sua costumada bonomia:
- Aqui está um velho que já casou três vezes, e que só tem feito no mundo o que as mulheres têm querido!

O Clarim

Afrânio Peixoto
 Conferência ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a 2 de julho de 1923

Reunidas em Pirajá, as tropas brasileiras desenvolviam daí, em 1822, o cerco do general Madeira, encurralado na Baía com o restante das forças portuguesas. A 8 de dezembro Madeira lança um contingente de 2.000 homens contra a ala direita dos sitiantes, levando-os de roldão. Chegam reforços de parte a parte, e os lusitanos vão triunfar, quando o coronel brasileiro Barros Falcão prevendo a derrota e querendo salvar o resto dos seus homens, ordena ao clarim Luiz Lopes, português de nascimento, mas que abraçara, aí, a causa da independência:
- Toca "retirar!"
O soldado leva o clarim à boca e o toque que se ouve é:
-  "Avançar, cavalaria!"
E logo outro:
-  "Degolar!"
Apavorados com o que ouviam, os portugueses, quase vitoriosos, recuam, os brasileiros ganham ânimo e avançam de novo. Estava ganha a batalha.

Desarmando o Inimigo

Múcio Teixeira - "Os Gaúchos", vol. I, pág. 362.

Era Salvador de Mendonça diretor do jornal A República, no Rio de Janeiro, quando o governo imperial, não obstante as suas idéias democráticas, o nomeou cônsul do Brasil nos Estados-Unidos. Aceita a nomeação, foi o jornalista, nas vésperas da viagem, despedir-se do Imperador, e pedir as suas ordens para aquele país.
- Não tenho ordens a dar-lhe, - respondeu-lhe, benévolo, o soberano.
E sorrindo:
- Apenas faço votos para que o senhor preste tão bons serviços ao Império, nessa República, quantos prestou à sua República no meu Império.

Prudência de Político

J.M.de Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 11.

Liberal ardoroso, Manuel Antônio Galvão batia-se valorosamente na Câmara quando, no maior da agitação, em 1826, arrefeceu o entusiasmo, recolhendo-se a um silêncio prudente. Anos depois, quando lhe perguntavam a razão dessa mudança, ele explicava:
- Tirei então a minha acha da fogueira para me não me arrepender na ocasião do incêndio!

O "Automóvel" de Patrocínio

Coelho Neto
Discurso na Academia Brasileira de Letras,
recebendo Mário de Alencar.

Não obstante o seu temperamento combativo e boêmio, José do Patrocínio era profundamente religioso. De regresso de Paris, trouxe ele um carro a vapor, que seria o avô do automóvel. Desembarcado o monstro, o jornalista montou na boléia, e, tomba aqui, tropeça acolá, foi encravá-lo, inutilizado, num buraco da Tijuca.
- Já sei por que foi! - fez Patrocínio, de repente, batendo na testa. - É porque não o batizei; estava pagão, o miserável!
E penalizado:
- Qual! Sem religião e com estas ruas sem calçamento, não há progresso possível!

Baiano... Nem de Graça!

Alberto Faria - Conferência no Museu Histórico Nacional,
a 13 de maio de 1924.

Exposto à venda num lote de escravos, no mercado de Campinas, Luiz Gama, que andava apenas pelos dez anos, foi abordado por um fazendeiro das cercanias, que lhe perguntou:
- Onde nasceste?
- Na Bahia, - respondeu o molequinho.
- Baiano... nem de graça! - declarou o comprador.
E afastando-se:
- Já não foi por bem que te venderam tão pequeno!
Trinta anos depois, tornado grande jornalista e advogado famoso, fez Luiz Gama relações com esse fazendeiro, que era o Conde de Três-Rios. E esse titular, que o não quisera para escravo, orgulhava-se, então, de tê-lo como amigo.

Sentença Militar

Afrânio Peixoto,
 Conferência no Instituto Histórico e  Geográfico Brasileiro,
 a 2 de julho de 1923.

Sitiado o general Madeira na Baía, começou, em 1823, o dissídio entre as tropas sitiantes, que deviam obedecer ao comando geral do general Labatut. Desobedecido esse general por Felisberto Gomes Caldeira, comandante de um dos batalhões patrióticos, é este preso. Dias depois a Junta da Cachoeira, ordena a prisão do próprio Labatut, e a libertação de Caldeira.
- Foi mal feito! - declarou o oficial brasileiro, depois de solto.
E emitindo a sua opinião:
- Um general que não convém às tropas não deve ser preso por estas: deve ser morto!
No ano seguinte, as suas tropas o matam!

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