O Destino do Imperador
Ernesto Sena -
"Deodoro", pág. 42.
Em uma das reuniões preparatórias do
movimento republicano, a 6 de novembro, em casa de Benjamim Constant,
assentavam-se planos quando Benjamim, de repente, indagou:
- E
que faremos do "nosso Imperador"?
Um silêncio profundo foi a resposta.
A figura bondosa e justa do monarca infundia respeito a todos aqueles
conspiradores, impedindo uma resolução. Quebrou, porém, esse silêncio, o
tenente Manuel Inácio.
- Exila-se! - disse.
- E se
resistir?
- Fuzila-se! - declarou o tenente.
Todos se
levantaram, numa reprovação,
- Oh!
fez Benjamim, refletindo a repugnância de todos. - O senhor é sanguinário!
E entre a
aprovação geral:
- Ao contrário, devemos
cercá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício, e
muito digno!
Gatunagem Gloriosa
Rodrigo Otávio -
Revista da Academia Brasileira de Letras n° 27.
Nos primeiros dias do século possuía
a Academia de Letras na sua sede, no escritório de Rodrigo Otávio, uma coleção
de retratos metidos em molduras modestas, e que eram os de Machado de Assis,
Taunay, Joaquim Nabuco, e outros, formando galeria. Por esse tempo, era costume
da Polícia, para prevenir o público, expor nas estações da Central, nos
subúrbios, os retratos de todos os batedores de carteiras mais temíveis da
cidade.
Um dia, vai à sede da Academia uma
senhora, constituinte de Rodrigo Otávio, levando em sua companhia uma filha de
cinco anos. A pequena olha, examina os retratos, e, de repente, voltando-se
para a moça:
- Mamãe,
quem são aqueles gatunos?
Lição de Heroísmo
Tobias Barreto -
"Pesquisas e depoimentos", pág. 240.
Preso na noite de 15 para 16 de
novembro, foi o visconde de Ouro-Preto conduzido ao quartel do 1° Regimento,
onde, fatigado, adormeceu. Alta noite, entra no compartimento um oficial, o
tenente Mena Barreto, que lhe grita:
- Acorde,
e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro-Preto
pôs-se de pé.
- Só se acorda um homem
para fuzilar, - retorquiu: - mas não para o avisar de que vai ser fuzilado.
E acentuou:
- O
senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!
Demitindo um Ministro
Serzedelo Correia -
"Páginas do Passado", pág. 15.
Prevenido com Rodrigues Alves, o
marechal Floriano resolveu pô-lo fora do ministério, onde ocupava a pasta da
Fazenda. Preferia, porém, que ele se demitisse e, num dos despachos coletivos,
despachou com todos os ministros. Ao chegar a vez de Rodrigues Alves,
levantou-se, foi para o interior da casa e não voltou mais. No despacho
seguinte, reproduzia-se a cena. Até que, no terceiro, voltando-se para os
outros ministros, declarou-lhes:
- Tenho
uma triste notícia a dar-lhes.
E com a
maior seriedade:
- Não
é que o nosso bom amigo Rodrigues Alves quer deixar-nos, pedindo demissão?
Teias de Aranha
Informação do
professor Raul Pederneiras
Fiscal
de uma casa de penhores, Emílio de Menezes ia uma vez por mês ao Tesouro
receber os magros vencimentos do cargo. E ao entrar ali, encontrava sempre um
indivíduo obsequioso, que chorava as suas misérias, as suas moléstias, a sua
fome, até que lhe arrancava uma cédula de cinco mil réis. Certa vez, o
"mordedor" foi mais longe nas suas lamentações.
- O senhor não imagina, - gemia, - o que eu tenho passado. Basta dizer-lhe que há quinze dias não como!
- O
que, homem? - espantou-se o poeta.
E para os
funcionários:
- Este
camarada com certeza já está com teias de aranha no céu da boca!...
Franqueza de Marido
Osório Duque-Estrada
- Discurso da Academia Brasileira de Letras.
Passava Sílvio Romero, uma tarde,
pela Avenida, quando viu grande aglomeração à porta de um cinema. Perguntou O
que era, e um cavalheiro explicou-lhe, indicando um violinista:
- Este homem comprometeu-se
a tomar parte no nosso concerto de benefício, e recusa-se agora, por imposição
da mulher, de quem tem medo!
Silvio varou
a multidão, indo tomar o "medroso" pelo braço.
- Coragem,
amigo! - Não se importe! - disse-lhe.
E com a sua
costumada bonomia:
- Aqui está um velho que já
casou três vezes, e que só tem feito no mundo o que as mulheres têm querido!
O Clarim
Afrânio Peixoto
Conferência ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
Conferência ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a 2 de julho de 1923
Reunidas em Pirajá, as tropas
brasileiras desenvolviam daí, em 1822, o cerco do general Madeira, encurralado
na Baía com o restante das forças portuguesas. A 8 de dezembro Madeira lança um
contingente de 2.000 homens contra a ala direita dos sitiantes, levando-os de
roldão. Chegam reforços de parte a parte, e os lusitanos vão triunfar, quando o
coronel brasileiro Barros Falcão prevendo a derrota e querendo salvar o resto
dos seus homens, ordena ao clarim Luiz Lopes, português de nascimento, mas que
abraçara, aí, a causa da independência:
- Toca
"retirar!"
O soldado
leva o clarim à boca e o toque que se ouve é:
- "Avançar, cavalaria!"
E logo
outro:
- "Degolar!"
Apavorados com o que ouviam, os
portugueses, quase vitoriosos, recuam, os brasileiros ganham ânimo e avançam de
novo. Estava ganha
a batalha.
Desarmando o Inimigo
Múcio Teixeira -
"Os Gaúchos", vol. I, pág. 362.
Era Salvador de Mendonça diretor do
jornal A República, no Rio de Janeiro, quando o governo imperial, não obstante
as suas idéias democráticas, o nomeou cônsul do Brasil nos Estados-Unidos.
Aceita a nomeação, foi o jornalista, nas vésperas da viagem, despedir-se do
Imperador, e pedir as suas ordens para aquele país.
- Não
tenho ordens a dar-lhe, - respondeu-lhe, benévolo, o soberano.
E sorrindo:
- Apenas faço votos para
que o senhor preste tão bons serviços ao Império, nessa República, quantos
prestou à sua República no meu Império.
Prudência de Político
J.M.de Macedo -
"Ano Biográfico", vol. I, pág. 11.
Liberal ardoroso, Manuel Antônio
Galvão batia-se valorosamente na Câmara quando, no maior da agitação, em 1826,
arrefeceu o entusiasmo, recolhendo-se a um silêncio prudente. Anos depois,
quando lhe perguntavam a razão dessa mudança, ele explicava:
- Tirei
então a minha acha da fogueira para me não me arrepender na ocasião do
incêndio!
O "Automóvel" de Patrocínio
Coelho Neto
Discurso na Academia Brasileira de Letras,
recebendo Mário de Alencar.
Discurso na Academia Brasileira de Letras,
recebendo Mário de Alencar.
Não obstante o seu temperamento
combativo e boêmio, José do Patrocínio era profundamente religioso. De regresso
de Paris, trouxe ele um carro a vapor, que seria o avô do automóvel.
Desembarcado o monstro, o jornalista montou na boléia, e, tomba aqui, tropeça
acolá, foi encravá-lo, inutilizado, num buraco da Tijuca.
- Já
sei por que foi! - fez Patrocínio, de repente, batendo na testa. - É porque não
o batizei; estava pagão, o miserável!
E
penalizado:
- Qual!
Sem religião e com estas ruas sem calçamento, não há progresso possível!
Baiano... Nem de Graça!
Alberto Faria -
Conferência no Museu Histórico Nacional,
a 13 de maio de 1924.
a 13 de maio de 1924.
Exposto à venda num lote de escravos,
no mercado de Campinas, Luiz Gama, que andava apenas pelos dez anos, foi abordado
por um fazendeiro das cercanias, que lhe perguntou:
- Onde
nasceste?
- Na
Bahia, - respondeu o molequinho.
- Baiano...
nem de graça! - declarou o comprador.
E
afastando-se:
- Já
não foi por bem que te venderam tão pequeno!
Trinta anos depois, tornado grande
jornalista e advogado famoso, fez Luiz Gama relações com esse fazendeiro, que
era o Conde de Três-Rios. E esse titular, que o não quisera para escravo,
orgulhava-se, então, de tê-lo como amigo.
Sentença Militar
Afrânio Peixoto,
Conferência no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a 2 de julho de 1923.
Conferência no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a 2 de julho de 1923.
Sitiado o general Madeira na Baía,
começou, em 1823, o dissídio entre as tropas sitiantes, que deviam obedecer ao
comando geral do general Labatut. Desobedecido esse general por Felisberto
Gomes Caldeira, comandante de um dos batalhões patrióticos, é este preso. Dias
depois a Junta da Cachoeira, ordena a prisão do próprio Labatut, e a libertação
de Caldeira.
- Foi
mal feito! - declarou o oficial brasileiro, depois de solto.
E emitindo a
sua opinião:
- Um
general que não convém às tropas não deve ser preso por estas: deve ser morto!
No ano
seguinte, as suas tropas o matam!
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