Quando você quiser deixar uma boa
impressão com o uso das palavras, é melhor estar prevenido. O português muitas
vezes nos prega peças.
Chefe ordena à secretária: “Faça um cheque
de R$ 600,00.” Ela pergunta: “Como se escreve 600?” Ele dá nova ordem: “Faça
dois cheques de 300.”
A secretária, preocupada, faz nova pergunta; “E 300 se escreve com “s” ou com
“z”?” O chefe, nervosos, grita: “Se não sabe escrever 300, faça quatro cheques
de 150.”
E a secretária, sempre zelosa pelo bom português, faz uma pergunta definitiva:
“Chefe, o trema já foi abolido?” Vencido, só lhe resta uma saída: “Pelo amor de
Deus, mande pagar em dinheiro.”
Para não haver dúvida, é bom lembrar:
seiscentos é com “sc”; trezentos se escreve com “z” e o trema foi abolido,
portanto o correto é cinquenta.
Você vem dirigindo o carro. O mapa
indica o caminho da esquerda, mas, na bifurcação, você entra à direita. Alguns
quilômetros à frente, descobre que está perdido. Desesperado, desce do carro e
começa a gritar: “Aonde estou? Aonde estou?” Além de não
saber ler um mapa, também não sabe pedir socorro. Quem está, está “em” algum
lugar. Portanto, se você já está em algum lugar, mesmo perdido e desesperado,
grite em bom português: “Onde estou? Onde estou?”
Responda rápido: “Você assiste o jogo
ou ao jogo?” Quando leio num jornal que “cem mil pessoas foram assistir o
jogo”, fico imaginando que “porcaria” de jogo foi esse. Afinal, foram cem mil
pessoas para prestar assistência! Pior é o médico que assiste ao doente. É por
isso que o paciente morre: o médico fica só olhando! Portanto, o certo é:
“Assistir ao jogo” e “Assistir o doente”.
Se quiser, você pode “sentar na
mesa”, mas está errado e é falta de educação. O que você pode realmente fazer é
“sentar-se à mesa”. Você pode
sentar-se na cadeira, mas com certeza deve sentar-se à mesa.
Quando encontro uma plaquinha
anunciando “Concertam-se sapatos”, fico logo imaginando uma “sinfonia” de sapatos.
Com certeza, antes dos sapatos, o nosso amigo deveria consertar a plaquinha:
“Consertam-se sapatos.” É bom lembrar que concerto é “sinfônico, musical,
orquestral...” e que consertar é “corrigir, reparar, retificar...”
Com frequência podemos observar em
alguns restaurantes: “Hoje, cosido à portuguesa.” Nessas horas, costumo ficar
imaginando um patrício lusitano “todo costurado” em cima da mesa. Não esqueça
que um bom “cozido à portuguesa” só pode ser com “z”. Estou falando do cozido
porque o português e a portuguesa serão escritos sempre com “s”.
Muita gente fala em crise de
desemprego. Mas o que está em crise é o emprego e não o desemprego. O mesmo
acontece com o famoso correr atrás do prejuízo. Isso é loucura! Corre-se atrás
do lucro. Muitos afirmam que correm risco de vida Mas correm risco de morte.
Pior ainda é essa mania de tirar a pressão. Se tirar a pressão, você morre. É
melhor medir a pressão.
Fato semelhante ocorreu com aquele
aluno que escreveu na sua redação do concurso vestibular que adorava “surpresas inesperadas”. Ora, se não
fosse inesperada, não haveria surpresa. Ele adora surpresas e ponto final. Isso
me faz lembrar aquele marido “previdente” que teria escrito para a mulher antes
de retornar de uma lona viagem: “Chegarei de surpresa na próxima sexta-feira, no voo da Varig das 22 horas.”
Certa vez, encontrei num jornal a
seguinte manchete: “Neste fim de semana houveram
vários crimes na cidade.” Pensei: O
primeiro foi contra a língua portuguesa. Por mais crimes que haja na
cidade, o certo é “houve vários
crimes”.
No último Natal, quando visitava a
cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, ouvi de uma criança: “A rua está cheia
de luzezinhas.” Todos riram, e eu fiquei envergonhado... Não da criança, que na
sua inocência falara da maneira correta, mas daqueles que riram. Os brasileiros
costumam falar luzinhas. Esta forma é
muito usada, mas desrespeita a regra. A criança estava certa.
Agora, aqui entre nós, imagine
alguém, lá pelas cinco da madrugada, afirmando que naquela noite já tinha
passado por três barezinhos. Vão
pensar que ele está de porre! Pode até ser verdade, mas está certo. Barzinhos, que a maioria usa, sinto
informar que está errado.
Para evitar “os barezinhos cheios de florezinhas
com luzezinhas coloridas”, ou você
fica em casa ou vá a “um único barzinho enfeitado de pequenas flores com luzes
coloridas”.
Dicas do professor Pasquale Cipro Neto
Ensinaram as gramáticas que o pronome
“lhe” deve ser associado a verbo que pede preposição, sobretudo a preposição
“a”. Veja:
“O livro pertence a você.” = O livro lhe
pertence.”
“Eu proponho a você um acordo.” = “Eu lhe
proponho um acordo.”
“Já disse a você que não aceito a proposta.” = “Já lhe disse que não aceito a proposta.”
Todos esses verbos pedem a preposição
“a” (algo pertence a alguém, alguém
diz algo a alguém, alguém propõe
algo a alguém).
As gramáticas também ensinam que,
quando o verbo não pede preposição, não se deve usar “lhe”, e sim “o” ou “a”. É
o caso de:
“Não conheço você.” = “Não o(a)
conheço.”
“Faz tempo que não vejo você.” = “Faz
tempo que não o(a) vejo.”
“Ninguém ofendeu você.” = “Ninguém
o(a) ofendeu.”
Esses verbos não pedem a
preposição “a” (alguém conhece alguém, alguém vê alguém, alguém ofende alguém).
E qual é a forma correta:
“Um mil reais” ou
“Hum mil reais”
R$ 1.000,00
Agora, segure-se na cadeira. No
fundo, estamos discutindo sobre nada. Sabe por quê? Porque o extenso de R$
1.000,00 não e nem “um mil reais”, nem “hum mil reais”. É “mil reais”.
Cerca de 342 pessoas
Não é raro encontramos na imprensa
construções como esta: “Estavam na conferência cerca de 342 pessoas”. Pura
bobagem! A expressão “cerca de” indica ideia de arredondamento, portanto não
combina com número tão preciso. Faz sentido dizer “Cerca de 300 (ou qualquer
número redondo) pessoas estavam na conferência”. Quando se sabe o número exato,
dispensa-se o “cerca de”.
“A cores”, “À cores” ou “Em cores”?
Gramáticos e
dicionaristas têm dado preferência à expressão “em cores”, certamente por
analogia com a expressão “em preto e branco”.
“Veredicto” ou “Veredito”?
Cuidado com empolgação! Nada de tirar
o “c”. A forma correta é “veredicto”, palavra de origem latina, que, ao pé da
letra, significa “verdadeiramente dito”.
Em compensação, nada de colocar o “c”
em “aficionado”. Não existe “aficcionado”, como gostam de dizer os jornalistas
esportivos. Ninguém é aficcionado de nada. Diga “Os aficionados do futebol!”
Quando se diz “obrigado” e quando se diz “obrigada”?
Um homem deve dizer “obrigado”,
independente do sexo da pessoa a quem estiver agradecendo. Uma mulher deve sempre
dizer “obrigada”, a quem quer que seja: “Muito obrigada, eu mesmo me sirvo”.
A origem do agradecimento em
português é exatamente a ideia de assumir uma obrigação com a pessoa quer
prestou o favor. Quando um homem diz “obrigado”, está dizendo que se sente
obrigado a retribuir o favor que recebeu. Para a mulher, vale o mesmo
raciocínio, ou seja, se ela sente obrigada a retribuir o favor, obviamente deve
dizer “Sinto-me obrigada” ou “Estou obrigada a retribuir o favor”.
Como escrever as horas
Existe uma convenção internacional,
da qual o Brasil é signatário, que estipula o seguinte: o símbolo de horas é
“h”, o de minuto é “min”. Nada de “hs”, nada de “7:00”, nada de “7,00” . Horas e minutos se
juntam: “O jogo começa às 21h30min”, a reunião começou às 7h”.
O filme durou 2h30min”; “A aula durou
55min”.
“Contacto” ou “Contato”?
Você certamente já ouviu “contacto”,
“contato”, “contactar”, “contatar”. Como fica isso? Nesse caso, vale tudo. É
comum a existência de formas variantes, como “corrupção” e “corrução”, esta
corretíssima, apesar de parecer esquisita. O problema é que muita gente se
empolga e vai tirando o “p” e o “c” a torto e a direito. E aí surge o verbo
“detetar”, que não existe. O certo é mesmo “detectar”.
A vírgula antes de “etc”
“Etc” é abreviatura de “et cetera”,
expressão latina que significa “e demais coisas’. Exatamente porque a expressão
contém o “e” alguns autores respeitáveis entendem que não se deve empregar a
vírgula, como não se emprega antes de “e” nas enumerações: “Comprei alho, ovos
e as demais coisas”; “comprei alho, ovos etc.”
Outros autores, porém, entendem que
se deve proceder como se o “etc” fosse um elemento da enumeração: “Comprei
alho, ovos, etc.”
O plural de “pôr-do-sol”
Trata-se de substantivo composto
formado por três elementos, dos quais o segundo é preposição (“de”). Nesses
casos, o procedimento é padrão: só varia o primeiro elemento. Veja estes
exemplos: “pé-de-moleque = pés-de-moleque”, “mula-sem-cabeça =
mulas-sem-cabeça”, “lua-de-mel = luas-de-mel”. Apesar da estranheza que a forma
“pores” causa, o plural de “pôr-do-sol” é mesmo “pores-do-sol”. “São belos os
pores-do-sol em Porto
Alegre ”.
Luzinhas e barzinhos não estão errados. Há séculos nossos melhores escritores escrevem mulherzinhas e florzinhas.
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