“Um país se faz com homens e livros.”
“No fundo não sou literato, sou
pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério arranjei, sem
nenhuma premeditação, este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito
senão pintar com as palavras.”
Em carta a Godofredo
Rangel, Areias, 6.07.1909.
“A Verdade nua manda dizer que
entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o
estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha em beiço, uma existe a vegetar de
cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a
põe de pé. Pobre Jeca Tatu! Como é bonito no romance e feio na realidade! Jeca
Tatu é um Piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem
todas as características da espécie. O fato mais importante da vida do Jeca é
votar no governo. A modinha, como as demais manifestações de arte popular
existente no país, é obra do mulato, em cujas veias o sangue recente do
europeu, rico de ativismos estéticos, borbulha d´envolta com o sangue selvagem,
alegre e são do negro. O caboclo é soturno. Não canta senão rezas lúgubres. Não
dança senão o cateretê aladainhado. O caboclo é o sombrio Urupê de pau podre a
modorrar silencioso no recesso das grotas. Bem ponderado, a causa principal da
lombeira do caboclo reside nas benemerências sem conta da mandioca. Talvez sem
ela se pusesse de pé e andasse. Mas enquanto dispuser de um pão cujo preparo se
resume no plantar, colher e lançar sobre brasas, Jeca não mudará de vida. O
vigor das raças humanas está na razão direta da hostilidade ambiente. Se a
poder de estacas e diques o holandês extraiu de um brejo salgado a Holanda,
essa joia de esforço, é que ali nada o favorecia!”
No conto “Urupês”
“Escrever para crianças é
semear em terra roxa virgem - e não praguejada. Cérebro de adulto é solo já
praguejado.”
Em Carta a Otaviano
Alves de Lima, 13 de agosto de 1946.
“Solidão mental... Sinto-a
completamente aqui. O cérebro embolora. Só resta a natureza. Abre a janela. Que
paisagem! Céu, serra e vale. Céu - gaze de puríssimo azul translúcido. Serra -
a Mantiqueira, rude muralha de safira. Vale - o do Paraíba, tapete sem
ondulações que lhe enruguem o plaino. Ao longo do vale singra uma pinta branca,
vôo de giz e voo da garça em manhã assim! Neve sobre azul!... Súbito... - o
bando. Vinham em bando alongado, ora a erguer-se uma, ora a baixar-se outras,
estas ganhando a dianteira, aquelas atrasando-se. Passam a quilômetros da minha
janela, tão nítidas que lhe percebo o aflar das asas. Mas... Outro bando! E
outro, atrás! E outro bem longe!... Jamais vi tantas, e em tão formoso quadro.
Subiam rio acima. Emigravam. Passavam. Passaram. E deixaram-me com a alma tonta
de beleza, e a sonhar mil coisas...”
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