Agradece antes de pedir.
Afinal, dás pouca importância ao
sol e à chuva.
E não viverias sem um ou outro.
Não te escuto falar em Santa Bárbara , salvo
quando troveja.
Muito menos imaginar a saudade,
Fatal quando te faltar o afeto ao
qual não valorizas como devias.
De outra sorte, pensando bem, nem
mesmo a vida eu te escuto agradecer.
Ao invés de viveres cada minuto
como se fosse o último,
perdulário, passas pelo tempo,
inconsciente de que o tempo está passando por ti.
Amanhã ou depois, se quiseres
retroceder, será tarde.
O tempo não volta. Com ele a vida
se vai.
Mas quem sou eu para ditar um
juízo final?
Não é esse o meu desejo.
Embora eu te desculpe porque és
humano,
custa-me entender como pode
alguém ser insensível às maravilhas da natureza.
Insensível ou quase. No entanto,
se algum dia vi, sou traído pela memória.
Não consigo fixar tua figura
contemplando a flor que desabrocha.
Atenta ao cantar do pássaro.
Extasiada ante o explodir da vida,
no ninho cuidadosamente feito ao
alcance de teus olhos e de tuas mãos.
Responde. Não te apercebes ou
nunca pensaste nisso?
Quando poluis a nascente, todo o
caudal se torna impuro.
Quando for amanhã e sentires
sede, vais te lembrar de agora?
Enriqueces com as árvores
roubadas da floresta?
Esse dinheiro não te queima as
mãos?
Ligas muito pouco à migalha que
cai de tua mesa.
Eu disse pouco? Tu não ligas
nada.
Estás convicto de ser eterna a
fartura.
Esqueces, como todos nós,
que a vida não é sempre dia, nem
é sempre noite.
Não te dás conta, ou não te
queres dar, das multidões famintas,
pois não te dizes imensamente
grato por não estares entre elas.
Sacodes os ombros no sinal de
indiferença de que nada tem com o assunto.
E tens. E temos. E quanto!
Por ventura um dia, teus olhos
contemplaram as estrelas do céu? Quantas são?
Não te disseram do nada que és
perante a imensidão indevassável do universo?
Sabes, meu medo maior nasce da
tua prepotência.
Perante teu próprio juízo, ora és
imortal. Ora és perfeito.
Vais ao ponto máximo da
onipotência,
de afirmares convicto que Deus te
fez a sua imagem e semelhança.
Porém, atenta, a frase é tua. O
conceito é teu.
Porque te pensas todo poderoso,
afirmas ser Deus o que pensas, e tu o modelo.
Quem sabe paras um minuto e, ao
invés de pedir, agradece?
Ainda tens tempo, pela
misericórdia divina,
para agradecer a suprema graça
recebida: estás vivo.
E se isso não te parecer o
bastante, nada mais te saciará.
Continuarás pensando como centro
do mundo, quando, na verdade,
o mundo continuará o mesmo sem a
tua presença.
Quem sabe, por não seres digno
como pensas do milagre dos milagres: a vida.
(Autor desconhecido)
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