Soneto XIII
(“Via Láctea” – Olavo Bilac)
“Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo
Perdeste o senso!” E eu vos
direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez
desperto
E abro as janelas, pálido de
espanto…
E conversamos toda a noite,
enquanto
A via láctea, como um pálio
aberto,
Cintila. E, ao vir do sol,
saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que
sentido
Tem o que dizem, quando estão
contigo?”
E eu vos direi: “Amai para
entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender
estrelas.”
As pombas
(Sinfonia – “As
Pombas”)
Raimundo Correia
Vai-se a primeira pomba
despertada…
Vai-se outra mais… mais outra…
enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais,
apenas
Raia saguínea e fresca a
madrugada…
E à tarde, quando a rígida
nortada
Sopra, aos pombais de novo elas,
serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as
penas,
Voltam em bando e em revoada…
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres
voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas
voltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas
voltam,
E eles aos corações não voltam
mais…
Vai-se a primeira pomba
despertada…
Vai-se outra mais… mais outra…
enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais,
apenas
Raia saguínea e fresca a
madrugada…
E à tarde, quando a rígida
nortada
Sopra, aos pombais de novo elas,
serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as
penas,
Voltam em bando e em revoada…
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres
voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas
voltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas
voltam,
E eles aos corações não voltam
mais…
Vaso grego
(De Poesias, 1ª série – “Vaso Grego” - Alberto de
Oliveira)
(De Poesias, 1ª série – “Vaso Grego” - Alberto de
Oliveira)
Esta,
de áureos relevos, trabalhada
De
divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já
de aos deuses servir como cansada,
Vinda
do Olimpo, a um novo deus servia.
Era
o poeta de Teos que a suspendia
Então
e, ora repleta ora esvazada,
A
taça amiga aos dedos seus tinia
Toda
de roxas pétalas colmada.
Depois…
Mas o lavor da taça admira,
Toca-a,
e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas
hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota
voz, qual se da antiga lira
Fosse
a encantada música das cordas,
Qual
se essa a voz de Anacreonte fosse.
Palavras ao mar
(Poemas e Canções –
“Palavras ao Mar” - Vicente de carvalho)
Mar,
belo mar selvagem
Das
nossas praias solitárias! Tigre
A
que as brisas da terra o sono embalam,
A
que o vento do largo eriça o pêlo!
Junto
da espuma com que as praias bordas,
Pelo
marulho acalentado, à sombra
Das
palmeiras que arfando se debruçam
Na
beirada das ondas - a minha alma
Abriu-se
para a vida como se abre
A
flor da murta para o sol do estio.
Quando
nasci, raiva
O
claro mês das garças forasteiras;
Abril,
sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando,
em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava
a primavera de ouro:
E
as leves garças, como folhas soltas
Num
leve sopro de aura dispersadas,
Vinham
do azul do céu turbilhonando
Pousar
o vôo à tona das espumas…
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