Noel Rosa foi um marco na música
popular brasileira. Um dos responsáveis pelo samba moderno e por ter trazido o
samba as rádios, além de aproximar o samba do morro com o asfalto. Suas letras
são atuais até hoje, assim como os textos de Shakespeare, pois tratam de temas
inerentes ao ser humano. Apesar disso, o cantor, compositor, bandolinista,
violonista ainda é pouco conhecido pela grande maioria das pessoas. Mesmo tendo
vivido apenas 26 anos, o suficiente para deixar seu nome entre os maiores do
samba carioca, Noel deixou mais de 200 composições gravadas. Entre elas
inúmeros clássicos indiscutíveis como "Palpite Infeliz",
"Feitiço da Vila", "Conversa de Botequim", "Último
Desejo", "Silêncio de um Minuto", "Pastorinhas" e
"Com Que
Roupa?". Em 2010, se estivesse vivo, Noel Rosa completaria 100
anos.
Noel Rosa morreu no dia 4 de maio de
1937. No dia seguinte, os jornais da época deram o devido destaque a morte do
homem franzino, frágil fisicamente, mas que se tornou forte e grandioso
culturalmente por sua vasta produção de belas composições.
Noel morreu com 26 anos, mas mesmo
com pouco tempo de vida, através das manchetes e alguns trechos de reportagens
que aqui reproduzimos, conseguimos medir a profundidade do que representava o
“poeta da Vila” no contexto da época. Enquanto alguns periódicos foram sucintos
nas chamadas, alguns trouxeram já pela manchete a amplitude de Noel.
Noel Rosa por Lan
Manchetes dos jornais – data: Quarta-feira, 05 de maio
de 1937.
O Jornal → Faleceu O Compositor Noel Rosa - Era Autor De
Numerosas Músicas Populares.
Diário de Notícias → Faleceu Noel Rosa - O Conhecido
Compositor Morreu Ouvindo Cantar Uma Musica De Sua Autoria.
Diário Carioca → Noel Rosa - Faleceu Ontem O Maior Cantor Da
Alma Carioca.
Correio da Manhã → A Morte
Prematura De Noel Rosa - Foi, Ontem, Sepultado, O Popular Cantor Do Radio
Diário da Noite → Morreu Cantando Noel Rosa A Figura Mais
Popular Dos Nossos Compositores
A Noite → Morreu Noel Rosa
Abaixo, a
transcrição da matéria do jornal “A Noite”:
Morreu Noel Rosa. A
cidade chora, nesta noticia, o desaparecimento do expoente máximo do sambista
carioca.
A letra era repleta de
uma filosofia humana. Sentira a necessidade de ambientar a musica que vivia nos
morros ao convívio da cidade. Fez letras onde o malandro e o jogo de chapinha
não entravam. Traduzia a própria vida em ritmos e melodias.
É seu esse samba canção: “Naquele tempo
em que você era pobre / Eu vivia como nobre / A gastar meu vil metal / E, por
minha vontade / Você foi para a cidade / Esquecendo a solidão / E a miséria daquele
barracão./ Tudo passou tão depressa, / Fiquei sem nada de meu / E esquecendo a
promessa, / Você me esqueceu, / E partiu, com o primeiro que aparece / Não
querendo ser pobre como eu.” Dizem que essa história foi vivida.
O morro era para ele
motivo de verdadeiras crônicas musicais. "Mangueira" é um exemplo
disso.
Seu
primeiro sucesso foi "Com Que Roupa". Nesse, plenamente, quer como
autor quer como violonista. Costumava, constantemente, interpretar, frente ao microfone,
suas produções. É enorme a sua bagagem musical.
Noel
Rosa morreu, vitimado por um colapso cardíaco, em tempo, prosseguindo os
estudos, ele ingressava na escola de Medicina. Em pouco tempo, porém,
abandonava os estudos, dedicando-se, inteiramente, á arte que o empolgara.
Venceu, em toda linha sua residência, á Rua Theodoro da Silva. E - suprema
ironia do destino!
Aqui, como “O Jornal” deu a morte de Noel:
À
meia-noite de ontem faleceu, nesta capital, em sua residência, à Rua Theodoro
da Silva, 382, o compositor de sambas e marchas, Noel Rosa.
Era uma figura simpática das rodas radiofônicas
e dos nossos musicistas mais populares.
Muitas de suas produções
como "Tarzan, O Filho do Alfaiate" e "Maria Fumaça",
tiveram um êxito extraordinário. Mas o seu samba que mais agradou, foi, sem duvida,
"Palpite Infeliz". De alguns anos para cá, não havia Carnaval
completo sem musica de Noel Rosa.
Encontrava-se ele
enfermo há varias semanas e os que o conheciam nada auguravam de bom, dado o
seu físico franzino. Entretanto, ainda recentemente, concedeu uma alegre
entrevista a uma de nossas revistas de rádio, traçando então os seus planos
para o futuro. Não quis o destino que se justificasse o seu otimismo.
O enterro sai, às 16
horas, de hoje, do referido endereço, para o cemitério de S. Francisco de
Assis.
Agora, como divulgou o “Diário de Notícias”:
Noel Rosa era um de nossos mais
conhecidos compositores populares. Suas músicas nunca deixavam de alcançar
sucesso nas temporadas carnavalescas.
Havia
meses vinha ele sofrendo de pertinaz moléstia, que lhe tirava toda a alegria. Ontem,
à noite, em frente à sua residência, à Rua Theodoro da Silva, 382, em Villa Isabel ,
realizava-se uma festa familiar.
Os rapazes, que
compunham a orquestra, resolveram prestar uma homenagem a Noel, cantando em voz
alta, o samba-desafio, de sua autoria, intitulado “De Babado Sim...”
O compositor popular, que regressara
havia três dias, de Piray, onde fora mudar de ares, ao ouvir a música, teve um
estremecimento e morreu, talvez de emoção.
O seu enterro será realizado
hoje à tarde, saindo o féretro do endereço acima.
Um verdadeiro artista
se perpetualiza através de suas obras. Noel Rosa é um exemplo de um artista que
mesmo sendo efêmero, se imortalizou pela magnitude de suas composições. Noel
Rosa não morreu! Ele vive em cada calçada da 28 de setembro, em cada roda de
samba e em cada mente que “saboreia”
as suas músicas, cantadas até hoje em verso e prosa.
“Se
alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação.”
Se você me quer ou não, diga que você me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação.”
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