Dentre
as várias versões sobre a origem da expressão popular “conto do vigário”,
destacamos a que se segue, sem, contudo, endossá-la.
Conta-se
que, em tempos já idos, um rapaz muito astuto, recém-chegado numa das nossas
velhas cidades, procurou algumas pessoas de destaque na sociedade local para
indagar da idoneidade moral do vigário da freguesia se podia confiar à sua
guarda avultada quantia que trazia consigo, e não havia ali banco nem qualquer
outro estabelecimento de confiança onde a depositar. Todos foram unânimes em
atestar e até jurar que ao sacerdote se podia confiar ouro em pó. O rapaz, então,
sobraçando um pacote, encaminhou-se para a igreja, fazendo-se acompanhar por
alguns senhores de elevado conceito na localidade, a fim de testemunharem a
entrega do dinheiro.
O
vigário que de nada sabia, julgando tratar-se de simples visita, convidou-o a
entrar para a sacristia, onde os dois sozinhos palestraram durante alguns
minutos, tendo os acompanhantes, por cerimônia, ficado do lado de fora. Ao
sair, já sem o pacote, o rapaz disse aos que o seguiram que o padre, muito
gentilmente, se prontificara a guardá-lo.
Passado
alguns dias, voltou o rapaz à igreja, acompanhado das mesmas pessoas, que desta
vez entraram com ele na sacristia, e pediu ao reverendo a restituição do
dinheiro que lhe havia dado para guardar. O vigário surpreso retrucou que não
recebera dele nenhum dinheiro. Insistiu o rapaz, invocando o testemunho dos que
o tinham acompanhado no dia da entrega e eram os mesmos que ali estavam agora,
os quais atestaram que o viram entrar com o pacote e sair sem ele.
O
padre titubeante, em face de tão inopinado caso, disse que,
realmente, havia achado um pacote escondido num canto da sacristia que, por não
trazer o mesmo nenhuma indicação do dono, o abrira, encontrando apenas jornais
velhos, e que atribuíra ter sido ali esquecido por alguma velha beata maníaca,
e por isto o tinha jogado no lixo.
Os
circunstantes entreolhavam-se desconfiados, não do rapaz, porém, do vigário, e
um deles, homem de posses, amigo do padre e da igreja, para evitar o escândalo
que o rapaz já ameaçava fazer, prontificou-se a entrar com o dinheiro que o
espertalhão alegou o pacote conter instituindo assim o que se passou a chamar
de conto do vigário.
Antenor
Nascentes, em A gíria brasileira, pág. 46, afirma que a expressão é de origem
espanhola, conhecida sob o nome de cuento del tio.
Sem
indicação de autoria. “Conto do vigário”. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro,
27 de dezembro de 1959.
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