domingo, 26 de outubro de 2014

O sabiá no sertão



Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove
Chover, chover 
Valei-me, Ciço, o que posso fazer
Chover, chover
Um terço pesado pra chuva descer
Chover, chover
Até Maria deixou de moer
Chover , chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Chover, chover
Cego Aderaldo peleja pra ver
Chover, chover
Já que meu olho cansou de chover
Chover, chover
Até Maria deixou de moer
Chover, chover
Banzo Batista, bagaço e banguê
Meu povo, não vá simbora 
Pela Itapemirim
Pois mesmo perto do fim
Nosso sertão tem melhora
O céu tá calado agora
Mas vai dar cada trovão
De escapulir torrão
De paredão de tapera
Bombo trovejou a chuva choveu
Choveu, choveu
Lula Calixto virando Mateus
Chover, chover
O bucho cheio de tudo que deu
Chover, chover
suor e canseira depois que comeu
Chover, chover
Zabumba zunindo no colo de Deus
Chover, chover
Inácio e Romano meu verso e o teu
Chover, chover
Água dos olhos que a seca bebeu
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde um boi pisa se atola
E a fartura esconde o saco
Que a fome pedia esmola
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou.


                        Chover 
(ou invocação Para Um Dia Líquido)
          Cordel do Fogo Encantado


Nenhum comentário:

Postar um comentário