“Ela
é universal como literatura e como perfil de mulher. Indo além do que já ousei
e me arrisquei nestes parágrafos, intuo que, embora o Brasil seja nome
masculino, nosso país, por nossa complexidade oblíqua, energética, misteriosa,
pela nossa História contada sempre de uma forma tão dissimulada e pelo fascínio
tão decantado de nossos trópicos, é, no fundo, uma nação Capitu.”
Fernanda Montenegro
Quem é Capitu? Uma pergunta
extremamente difícil em meio a essa enigmática personagem de Machado de Assis.
Capitu consegue ser odiada e adorada por muitos, pois, sem sombra de dúvida, é
uma personagem muito a frente do seu tempo. Capitu escondida por detrás dos
seus misteriosos “olhos de ressaca” foi além de muitas mulheres da sua época
que viviam a mercê das suas famílias.
Capitu:
"criatura de 14 anos,
alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os
cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à
moda do tempo,... morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha
a boca fina e o queixo largo... calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a
que ela mesma dera alguns pontos”.
Personagem que tem o poder de surpreender:
“Fiquei aturdido.
Capitu gostava tanto de minha mãe, e minha mãe dela, que eu não podia entender
tamanha explosão”.
Segundo José Dias, Capitu possuía:
“olhos
de cigana oblíqua e dissimulada”, mas para Bentinho os olhos pareciam “olhos de ressaca”; “Traziam não sei
que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, com a
vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”.
Bentinho e Capitu
A personagem nos é pintada leviana, fútil,
a que desde pequena só pensa em vestidos e penteados, a que tinha ambições de
grandeza e luxo. Foi comparada, certa vez pela crítica, como a aranha que
devora o macho depois de fecundada. Inteligente, prática, de personalidade
forte e marcante (ela era muito mais mulher do que Bentinho, homem), Capitu
acaba se tomando a dona do romance: forma, inicialmente, com o narrador, um “duo terníssimo” e, depois, possa
a constituir o centro do drama do protagonista masculino, com a entrada em cena
de Escobar (“trio") e de Ezequiel (“quattuor”).
Quem é Capitu?
A personagem mais polêmica da
literatura brasileira, ganha várias versões sobre sua personalidade, sua
suposta traição e as dúvidas de seu marido.
Alberto Schprejer organizou um livro, formando um time de feras: Fernanda Montenegro, Luiz Fernando Carvalho, Mary Del Priore, Gustavo Bernardo, Carla Rodrigues, Lya Luft, Silviano Santiago, John Gledson, Otto Lara Resende, Luis Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, Roberto DaMatta, Daniel Piza, Lygia Fagundes Telles.
Com uma bela e incógnita
personagem nas mãos, os autores tentam “atar as duas pontas da vida” de Capitu,
uns na defesa e outros, acusação. Alguns são polêmicos como a própria Capitu.
Mary Del Priore faz uma conclusão histórica do machismo para defender Capitu. Enquanto
que Otto Lara Resende (que fica perplexo com o fato de todos duvidarem da
sanidade de Bentinho), incrimina Capitu sem dó. No entanto John Gledson,
discorda friamente de Resende, usando sua idade como desculpa da sua
incompreensão da obra.
Luís Fernando Veríssimo e Millôr Fernandes duvidam da sexualidade de Bentinho, transparecendo nos seus textos a bissexualidade de Bentinho e o ciúme (e o amor) por Escobar e não por Capitu. Citando passagens
Além de Del Priore, Carla Rodrigues cita também a feminista americana Helen Caldwell, que propôs. em 1960, uma releitura de Dom Casmurro para a defesa de Capitu, contra o machismo do século XIX.
Além de tudo isso e mais alguns ótimos textos e crônicas dos outros autores, Luiz Fernando Carvalho dá detalhes de como a minissérie, que foi ao ar em rede nacional em dezembro do ano passado, Capitu, foi feita, imaginada e dirigida. Contêm as observações e os desenhos do diretor que inundou de boa literatura as salas de muitos brasileiros. E claro, mais uma vez, a atriz Fernanda Montenegro entrando no personagem, faz uma reflexão maravilhosa sobre a polêmica Capitu.
Quem é Capitu, ninguém ao certo sabe. A dúvida continua na mente de muitos críticos, escritores, poetas, estudiosos, jornalistas, feministas e etc.
O fato, é que Machado de Assis, o
gênio e culpado pela existência da Academia de Letras, Realismo brasileiro e a
traição ou não de Capitu, morreu e levou consigo o segredo que por mais que os
intelectuais tentem, nunca vai ser desvendado.
Machado de Assis escreveu a realidade humana
em uma única mulher: bonita, inteligente, sagaz, estrategista e principalmente,
misteriosa.
Machado de Assis por Fábio Nienow
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