Um campeiro, lá do Apanhador, o seu
Delpides Castilhos, homem muito tímido que tinha uma baita dificuldade em
começar uma charla, de vez em quando, se metia nuns apuros bárbaros: era quando
precisava se chegar e falar com as viúvas de seus compadres falecidos.
Da primeira vez, foi no Lajeado
Grande, no velório do compadre Epaminondas. Depois de hesitar bem uns quinze
minutos, que lhe pareceram anos, diante do defunto, olhando fixo pra água
benta, virou-se num repente, pra viúva e os familiares prostrados ao redor do
caixão e disse:
- Tudo azuli aí, pessoali!
E como a pergunta não surtisse o
desejado efeito de quebrar o silêncio constrangedor, ele ainda arriscou,
olhando o defunto:
- Mais... o que que deu nesse pixote?
*****
De outra feita, foi a Criúva, quando
o falecido Austero Paim morreu. Chegando na sala abafada e cheirando a palheiro
anoitecido, depois de dar alguns passos, pisando leve de botas novas no
assoalho rangedor, para não ser muito percebido, e de uns intermináveis
momentos, olhando o compadre morto, por trás dos sapatões defuntos empinados
pro seu lado, e enrolando e desenrolando as abas do chapéu, ele resolve se
chegar pra viúva inconsolável e falou:
- Mais... cumadre, como foi que se deu o caso?
- Ah!, cumpadre, matou-se!
- Ããhhh... com tatuzinho?
- Não, cumpadre. Carrapaticida!
- Ah!... também é bão!
*****
E de outra vez, novo defunto, nova
viúva e o Delpides na mesma situação difícil, a suar, sem nada que lhe
ocorresse pra começar a conversa com a comadre ,até que:
Mais... o que que houve com o cumpadre?
- Pneumonia.
- Ãh!... simples ou dupla?
- Simples, cumpadre.
- Ãh!... teve sorte! Se fosse da dupla...
(Do livro “Causos do Boi Voador”,
Lisana e Paulo Bertussi)
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