sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Seu Delpides e os enterros


          
Um campeiro, lá do Apanhador, o seu Delpides Castilhos, homem muito tímido que tinha uma baita dificuldade em começar uma charla, de vez em quando, se metia nuns apuros bárbaros: era quando precisava se chegar e falar com as viúvas de seus compadres falecidos.

Da primeira vez, foi no Lajeado Grande, no velório do compadre Epaminondas. Depois de hesitar bem uns quinze minutos, que lhe pareceram anos, diante do defunto, olhando fixo pra água benta, virou-se num repente, pra viúva e os familiares prostrados ao redor do caixão e disse:
- Tudo azuli aí, pessoali!
E como a pergunta não surtisse o desejado efeito de quebrar o silêncio constrangedor, ele ainda arriscou, olhando o defunto:
- Mais... o que que deu nesse pixote?

*****

De outra feita, foi a Criúva, quando o falecido Austero Paim morreu. Chegando na sala abafada e cheirando a palheiro anoitecido, depois de dar alguns passos, pisando leve de botas novas no assoalho rangedor, para não ser muito percebido, e de uns intermináveis momentos, olhando o compadre morto, por trás dos sapatões defuntos empinados pro seu lado, e enrolando e desenrolando as abas do chapéu, ele resolve se chegar pra viúva inconsolável e falou:
- Mais... cumadre, como foi que se deu o caso?
- Ah!, cumpadre, matou-se!
- Ããhhh... com tatuzinho?
- Não, cumpadre. Carrapaticida!
- Ah!... também é bão!

*****

E de outra vez, novo defunto, nova viúva e o Delpides na mesma situação difícil, a suar, sem nada que lhe ocorresse pra começar a conversa com a comadre,até que:
Mais... o que que houve com o cumpadre?
- Pneumonia.
- Ãh!... simples ou dupla?
- Simples, cumpadre.
- Ãh!... teve sorte! Se fosse da dupla...

(Do livro “Causos do Boi Voador”, Lisana e Paulo Bertussi)



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