Decorrido um ano da morte de Antônio
Paulino, o Exército acampou em Topador atual nas pontas do Sarandi, próximo a
Santana, atual. Onofre Pires falava abertamente tudo o que sentia em relação a
Bento Gonçalves e no seio da tropa.
Bento, em carta, pediu que Onofre
confirmasse ou não, por escrito, as acusações ofensivas à sua honra feitas em
presença de terceiros. Onofre logo respondeu no outro dia confirmando, abrindo
mão de suas imunidades parlamentares e colocando-se à disposição de Bento no
local que este saberia encontrá-lo. Isto equivalia a um duelo, hipótese
desejada por Onofre Pires que levava grande vantagem no seu porte atlético e
com menos 10 anos de idade (44 x 54 anos). Bento Gonçalves procurou Onofre
Pires e o desafiou para o duelo. Juntos afastaram-se meia légua - dia
27 de fevereiro de 1844.
Chegando ao local, entre outras
trocas de palavras, Bento falou a Onofre que não tinha mandado matar Paulino da
Fontoura. E se tivesse necessidade teria recorrido a um duelo como agora faria
com ele.
Mesmo antes do duelo, Bento já
dominava com seu carisma, o temperamental primo que ali servia de instrumento
de terceiros, talvez até inconscientemente.
Iniciado o combate, Bento atingiu
Onofre no antebraço direito o que interrompeu o duelo. O fato sem testemunhas
tem provocado diversas versões.
Sobre esta, escreveu mais tarde o
brigadeiro imperial José Gomes Portinho que fora destacado líder militar
farrapo e insuspeito por amigo e cunhado de Antônio Vicente da Fontoura.
“Onofre foi ferido no braço direito.
O mesmo Bento Gonçalves tratou da ferida, atando-a com seu próprio lenço, sendo
Onofre conduzido para o campo e dai a sua casa (barraca) onde morreu passados
dois dias. E isto por falta de médico. Não havia.”
Outro farrapo diz que “ficou um
lanceiro cuidando de Onofre Pires e Bento foi buscar recursos”.
Ambos o dão como morto em 1° de
março, dois dias depois. Antônio Vicente da Fontoura registrou dia 3 de março,
ou quatro dias depois e de gangrena e que Bento foi preso por Canabarro.
Bento
Gonçalves em carta a Domingos José de Almeida, de 9 de março de 1844 escreveu:
Bento Gonçalves
“Já meu compadre saberá do fim
desastroso que teve o coronel Onofre que fazia o papel de general Santérre na
facção desorganizadora, que o incitou a provocar-me tão atrevidamente. Ela
contava com a vitória, porque olha para as coisas como lhe parecem, e não como
são de fato. A paixão os domina e, por isso, vendo aquele homem tão corpulento,
o julgaram um gigante e eu um pigmeu.
Enganaram-se e, depois escondendo
todos o rabo, se retiraram dele, ao ponto de não achar-se um só desses malvados
a seu lado, ao menos na hora da morte. Que malvadeza! Eu lamento sua sorte, mas
não tenho o menor remorso, porque obrei como verdadeiro homem de honra. Em tais
casos, obrarei sempre assim, não me importando com o tamanho, e nem a nomeada
(fama) da pessoa que se atreva a atacar a minha honra.”
E assim teve fim Onofre Pires, cujos
restos mortais devem estar em algum lugar nas pontas do Sarandi, atual Topador
em Santana.
É uma vida que merece reflexão.
Caxias, por ocasião do duelo,
marchava de Alegrete para Santana, conforme suas ordens-do-dia.
Onofre falecia quase oito
anos depois do rumoroso fuzilamento que ordenou em Mostardas, no qual foi
vitima ilustre o capitão Francisco Pinto Bandeira. Seria a confirmação do
ditado popular “Quem com ferro fere, com ferro será ferido?”
Onofre Pires fez parte da minoria
opositora (cerca de um 1/6) a Bento Gonçalves, na Assembleia Constituinte da
República Rio-Grandense, em
Alegrete. Seu perfil moral parece não ter feito honra a
oposição que integrou e o usou como instrumento contra Bento Gonçalves, em
momento critico da Revolução.