sábado, 12 de setembro de 2015

Literatura, Direito e outros saberes

João Baptista Herkenhoff


Indaga-me um ex-aluno: Qual a importância da Literatura na formação do jurista? Socializo a resposta que dei a ele porque suponho que muitos jovens tenham vontade de fazer a mesma pergunta, mas se abstenham de fazê-lo supondo que incomodariam o professor. Respondi ao curioso ex-aluno: O mergulho na Literatura é indispensável ao jurista sob vários ângulos. A Literatura abre horizontes, o jurista não deve ter olhos vendados. A Literatura revela a natureza humana, tanto no que tem de nobre, quanto no tem de sórdido, e o jurista deve mergulhar na compreensão das muitas faces do ser humano. Essa ampliação de horizontes não vale apenas para juristas. Médicos, psicólogos, professores, políticos, profissionais liberais, todos estes enriquecem o espírito quando visitam o território literário.

Animado com a atenção que lhe dei, perguntou o jovem: Que obras literárias seriam especialmente adequado ler? Não fiz ouvido surdo. Sugeri dez livros: “Um erro judiciário”, de A. J. Cronin; “O caso dos exploradores de caverna”, de Lon Fuller; “A Justiça a serviço do crime”, de Arruda Campos; “Faz escuro, mas eu canto”, de Thiago de Mello; “As marcas de Caim”, de Jurgen Phorwald; “Vigiar e punir”, de Michel Foucault; “Oração aos Moços”, de Rui Barbosa; “O Processo Maurizius”, de Jakob Wassemann; “Cartas da Prisão”, de Frei Betto; “Operário do Canto”, de Geir Campos.

O ex-aluno chegou ao clímax. Estava dialogando com o professor. Fez uma pergunta, talvez a final, indagando que autores, sem ligação com o Direito, recomendaria. Respondi sem pestanejar: Machado de Assis, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Mário Quintana, Castro Alves, Raquel de Queiroz, Jorge Amado, Érico Veríssimo.

Ele, então, atalhou: professor, estou emocionado com sua atenção. Desculpe invadir sua privacidade, mas que livro o senhor está lendo neste momento? Comecei tranquilizando-o que seu espírito curioso não invadia minha privacidade. O mundo seria melhor se barreiras profissionais, políticas, religiosas, decorrentes de faixa etária fossem rompidas. Todos somos seres humanos, todos somos iguais, não apenas iguais perante a lei, conforme diz a Constituição. Respondi: na verdade não estou lendo, estou relendo “Médico de Homens e de Almas”, de Taylor Caldwell. Gosto muito de reler livros. É na releitura que colho a essência. Esta obra gira em torno da vida de São Lucas. Eu não o classificaria como um livro religioso. É, na verdade, a exaltação do Humanismo, acima de rótulos confessionais. A meu ver Taylor Caldwell atinge a sublimidade quando narra o encontro de Lucano (apelido familiar do Apóstolo Lucas) e Maria, Mãe de Jesus.



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