(Tegucigalpa, 21 de dezembro de 1921
– Cidade do México, 7 de fevereiro de 2003)
– Cidade do México, 7 de fevereiro de 2003)
Augusto Monterroso foi um escritor
latino-americano de origem hondurenha. Fez parte do grupo de autores sul-americanos
conhecidos a partir do Boom Literário da década de 60 e 70. Por sua obra ser
formada apenas por contos, não atingiu a celebridade dos outros integrantes
romancistas como Garcia Marquez e Vargas Llosa. No entanto, seu conto “O
Dinossauro” tem a fama de ser o menor conto do mundo, abrindo espaço para o
gênero de miniconto:
Quando ele acordou, o dinossauro ainda estava lá.
Seus contos são, na maioria dos
casos, bem curtos - de um a três parágrafos - o que faz sua leitura ter um
ritmo a partir de frases breves e repetição do tratamento de temas recorrentes
em sua obra. Seu livro A Ovelha Negra e outras Fábulas publicado pela
Cosac Naify no Brasil contém fábulas que subvertem a regra do gênero de
“moral da história” a transformando em imoralidade subjetiva. Os dois contos
aqui publicados foram retirados dessa edição, com tradução de Millôr Fernandes.
O Raio que caiu duas vezes no mesmo lugar
Houve uma vez um Raio que caiu
duas vezes no mesmo lugar; porém achou que na primeira tinha feito estrago
suficiente, que já não era necessário, e ficou muito deprimido.
O Macaco pensa nesse tema
Por que será tão atraente pensava
o Macaco noutra ocasião, quando deu com a literatura e ao mesmo tempo tão sem
graça esse tema do escritor que não escreve, ou daquele que passa a vida se
preparando para produzir uma obra-prima e pouco a pouco vai se convertendo em
um mero leitor mecânico de livros cada vez mais importantes, mas que na verdade
não lhe interessam, ou o recorrente (o mais universal) daquele que quando
aperfeiçoou um estilo descobre que não tem nada a dizer, ou o daquele que
quanto mais inteligente é, menos escreve, enquanto à sua volta outros talvez
não tão inteligentes como ele e a quem ele conhece e despreza um pouco publicam
obras que todo mundo comenta e que o efeito às vezes até são boas, ou o daquele
que de alguma forma conseguiu fama de inteligente e se tortura pensando que os
amigos esperam dele que escreva alguma coisa, e o faz, com o único resultado de
que os amigos começam a duvidar de sua inteligência e de vez em quando se
suicida, ou o daquele idiota que se julga inteligente e escreve coisas tão
inteligentes que os inteligentes se admiram, ou o daquele que nem é inteligente
nem idiota nem escreve nem ninguém conhece nem existe nem nada.
Augusto Monterroso
Faz muito tempo, em um país distante, vivia urna Girafa de estatura regular, mas tão descuidada que uma vez saiu da Selva e se perdeu.
Desorientada como sempre, se pôs a
caminhar às tontas e à maluca daqui para lá, e por mais que se agachasse para
encontrar o caminho, não o encontrava.
Assim, deambulando, chegou a um
desfiladeiro onde nesse momento acontecia uma grande batalha.
Apesar das baixas serem muito altas
em ambos os lados, nenhum estava disposto a ceder um milímetro de terreno.
Os generais arengavam suas tropas
com as espadas no alto, ao mesmo tempo que a neve ficava manchada de púrpura
com o sangue dos feridos.
Entre o fumo e o
estrépito dos canhões se viam caindo sem vida os mortos de um e outro exército,
com tempo apenas para recomendar sua alma ao diabo; porém os sobreviventes
continuavam disparando com entusiasmo até que a eles também chegava sua vez e
caíam com um gesto estúpido que porém na queda acreditavam que a História iria
recolher como heroico, pois morriam para defender sua bandeira; e realmente a
História recolhia esses gestos como heroicos, tanto a História que recolhia os
gestos de um como a que recolhia os gestos de outro, já que cada lado escrevia
sua própria História; de modo que Wellington era um herói para os ingleses e
Napoleão era um herói para os franceses.
Enquanto isso, a Girafa continuou
caminhando, até que chegou a uma parte do desfiladeiro em que estava montado um
enorme Canhão, que nesse preciso instante fez um disparo exatamente uns vinte
centímetros acima de sua cabeça, mais ou menos.
Ao ver a bala passar tão perto, e
enquanto seguia com avista sua trajetória, a Girafa pensou:
“Que bom que eu não sou alta, pois
se meu pescoço me disse mais trinta centímetros essa bala tinha me arrebentado
a cabeça; ou bem, que bom que esta parte do desfiladeiro onde está o Canhão não
é tão baixa, pois se medisse trinta centímetros menos a bala também tinha me
arrebentado a cabeça. Agora compreendo que tudo é relativo.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário