domingo, 11 de outubro de 2015

Contos de Machado de Assis



Machado de Assis aos 30 anos

Biografia

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro. De origem humilde, mestiço, começou a ganhar a vida como aprendiz de tipógrafo. Pouco se sabe de sua infância. Acredita-se que tenha freqüentado, por algum tempo, a escola pública de primeiras letras. A realidade, porém, é que Machado de Assis foi sempre um autodidata.

Em 1869, casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes, que influenciou muito sua carreira. Ocupou vários cargos públicos e, juntamente com outros intelectuais, fundou a Academia Brasileira de Letras, sendo eleito seu presidente.

Bibliografia

Poesia: Crisálidas (1864); Falenas (1870); Americanas (1875); Poesias Completas (1901).

Romance: Ressurreição (1872); A Mão e a Luva (1874); Helena (1871); Iaiá Garcia (1878); Memórias Póstumas de Brás Cubas  (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1900); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908).

Conto: Contos Fluminenses (1870); Histórias da Meia-noite (1873); Papéis Avulsos (1882); Histórias Sem Data (1884); Várias Histórias (1896); Páginas Recolhidas (1899); Relíquias da Casa Velha (1906).

Escreveu ainda teatro, crônica e crítica.

O conto Machadiano

Machado de Assis é autor de quase duzentos contos, o que o situa – pela quantidade do que escreveu – entre os melhores contistas mundiais. Houve também uma evolução do escritor a partir de suas histórias românticas, leves, para histórias mais densas, mais intrigantes.

A construção de um conto é, com certeza, muito mais difícil do que a construção de um romance, porque o conto:

Þ é uma narrativa curta e deve prender a atenção do leitor;
Þ deve ter um só conflito e este tem de ser muito interessante;
Þ deve conduzir o leitor para um único efeito, provocando-lhe tensão na leitura;
Þ deve manter um perfeito equilíbrio narrativo sempre;
Þ trabalha com poucas personagens, em tempo exíguo, em pequenos espaços.

Nesse sentido, Machado de Assis foi um contista extraordinário, pois soube manejar as regras do conto como ninguém.

Estrutura do Conto

Foco Narrativo:

Dos sete contos selecionados abaixo, um deles apresenta foco narrativo de primeira pessoa, técnica em que Machado de Assis sempre se revelou exímio: Missa do Galo.  Outro, não há narrador: Teoria do Medalhão. Os demais apresentam foco narrativo de terceira pessoa: A Cartomante, Pai contra Mãe, Um Homem Célebre, Cantiga de Esponsais e O Espelho; embora nesse último, a partir do momento em que se insere a narrativa encaixada de Jacobina, prevalece o discurso em primeira pessoa.

Tempo:

Vale-se do tempo cronológico (uma noite, dia do aniversário do filho, época da escravidão,...). No entanto, em O Espelho, encontramos um trabalho interessante sobre o tempo. A narrativa apresenta a sequência de ações cronologicamente, mas fundamenta com arte como se processa no indivíduo a ocorrência e a sensação do tempo psicológico.

Espaço:

Machado, na construção do espaço em seus contos, age como se fosse um cenógrafo moderno, que apenas sugere o cenário com poucos elementos, somente aqueles indispensáveis para a ação e para que o espectador possa imaginar o local físico em que ela acontece.

Personagens:

É na construção das personagens que o escritor dedica sua maior atenção, reunindo um a um seus pequenos gestos, seus mínimos pensamentos, suas contradições até que seu retrato seja patenteado ao leitor.

Estilo de Época

Entre as mais notáveis características desse estilo de época podemos mencionar a não idealização das personagens. Agora, podemos em uma narrativa encontrar personagens vulgares, com defeitos e imperfeições que estamos acostumados a ver nas pessoas que nos rodeiam. O materialismo e o anticlericalismo são comuns na maioria dos escritores. A temática é sempre contemporânea, evitando-se o medievalismo, o passado histórico. Em vez de valorizar as peripécias, a ação exterior, o escritor realista desenvolve uma maior preocupação com a ação interior, com a análise psicológica. O enredo torna-se moroso, mas é valorizado por uma grande preocupação formal.

Racionalismo, objetividade, visão crítica são posturas fundamentais para todo artista que pretenda ser realista.

Problemática e principais temas

O conto machadiano segue a tendência dos romances, mantém aquilo que chamamos de microrrealismo, ou seja, uma tendência à observação das minúcias psicológicas das personagens, uma constante tentativa de desvendar a alma humana, uma busca incansável de revelar o âmago dos gestos e atitudes que produzem essas criaturas dentro da sociedade. Por essa trilha desfilam certas figuras recorrentes, tais como o avaro, o enganador ou parlapatão, ou a mulher indecisa. Seu intuito não é aceitar qualquer idealização ou sentimentalismo, mas revelar o âmago, o íntimo mais opaco. Assim a verdade transparece, os defeitos se revelam, transparentes e dolorosos, como marcas de sua escritura pessimista. É a partir desses humanos defeitos que retiramos alguns dos principais temas que cercam alguns dos sete contos escolhidos abaixo.

A sedução amorosa e a insegurança dos envolvidos, marcados estes pelo clima de dúvida e de suspeita, ficam patentes no conto que pode ser considerado uma de suas obras-primas: Missa do Galo.

Em O Espelho, que pode ser considerado como um conto-teoria, Machado discorre sobre a influência do exterior (no caso um cargo) na alma de um indivíduo. Sem dúvida, é a representação do mundo da aparência (alma exterior) interferindo no mundo íntimo da personagem (alma interior).

Adultério torna-se temática única no conto tradicional: A Cartomante.


Assinatura de Machado de Assis





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