De onde surgiu a expressão 'fazer uma vaquinha'?
Em 1923, a torcida do Vasco da
Gama, do Rio de Janeiro, resolveu estimular os atletas de seu time a se
dedicarem ao jogo com maior empenho e começou a arrecadar dinheiro para dar
como prêmio aos atletas em valores proporcionais aos resultados alcançados pelo
time em campo.
O valor tinha inspiração nos números
do jogo do bicho: 5, número do cachorro, equivalia a 10 mil réis - prêmio por
um simples empate; 10, número do coelho, equivalia a 10 mil réis - prêmio por
uma vitória comum; 25, número da vaca, correspondia a 25 mil réis - premiação
dada somente em grandes vitórias, contra os adversários mais fortes ou em
partidas decisivas.
O prêmio máximo do jogo do bicho era
vinte e cinco mil réis, e isso representava a vaca, surgiu o termo popular “fazer uma vaquinha”, ou seja, tentar
reunir o máximo de dinheiro possível para um fim específico.
A origem de 22 expressões populares
01. Olha o passarinho!
Hoje, tirar uma foto é muito
fácil e leva apenas um milésimo de segundo, mas não costumava ser assim. Há
mais de um século, quando essa arte surgiu, os equipamentos levavam alguns
minutos para fixar a imagem nos filmes. Assim, as pessoas precisavam ficar
paradas durante esse tempo e a dificuldade era ainda maior quando havia
crianças na pose. Para chamar a atenção delas e mantê-las olhando em direção à
câmera, os fotógrafos colocavam uma gaiola com passarinhos ao lado da máquina e
diziam: “Olha o passarinho!”. A
expressão se popularizou e ainda é usada para chamar a atenção das pessoas na
hora de tirar a foto.
Em épocas de estiagem, as vacas costumam
sair em busca de água em áreas pantanosas e, muitas vezes, acabam ficando
presas no lodo. Atoladas, elas começam a afundar, só sendo possível tirá-las
desses locais com ajuda humana. Para os criadores de gado, a vaca ir para o
brejo significa prejuízo certo, pois a maior parte dos animais que fazem esse
percurso acaba morrendo afogada. Assim, quando as coisas não dão certo,
popularizou-se a expressão “a vaca foi pro brejo”.
Há duas explicações plausíveis para a
origem dessa expressão. A primeira diz que na China, os homens tinham o costume
de manter relações sexuais com gansos e antes da ejaculação, afogavam a ave
para que ela tivesse mais contrações. Já a segunda versão, criada por Mário
Prata no livro “Mas será o Benedito?”, diz que a expressão foi um eufemismo
usado por Dom Pedro I em suas cartas para a Marquesa de Santos referindo-se às
relações sexuais mantidas pelos dois, driblando a censura imposta pelo pai do
príncipe para essas correspondências.
04. Lavar a égua
Muito antes
da tradição cunhada nas corridas da Fórmula 1, quando uma égua vencia um páreo,
o bichinho era saudado com um banho de espumante (seu semelhante do sexo
masculino não recebia o mesmo tratamento). Essa prática dos donos dos equinos
vencedores simbolizava que eles haviam ganhado uma boa grana de premiação e foi
assim que a expressão “lavar a égua” popularizou-se como sinônimo de ganhar.
05. Lágrimas de crocodilo
Se você achava que a expressão nasceu
porque crocodilos não produzem lágrimas, sinto informar que você estava errado.
Esses animais realmente choram, só que as lágrimas são o resultado de um
processo biológico e não têm nada a ver com um possível sentimento que o animal
estaria sentindo naquele momento. Quando os crocodilos ficam muito tempo fora
da água, suas glândulas produzem uma secreção para lubrificar seus olhos. Uma
outra situação em que esses répteis ‘choram’ é quando, no ato de mastigar sua
presa, o animal pressiona as glândulas lacrimais. Com o passar dos anos, a
sabedoria popular consagrou a expressão “lágrimas de crocodilo” como sinônimo
de todo choro que parece fingido ou hipócrita.
06. Fazer uma vaquinha
E a vaca está aqui de novo!
Geralmente, quando um clube de futebol vence uma partida importante, seus
jogadores recebem uma bonificação em dinheiro chamada de “bicho”. Nos anos 20, a torcida do Vasco da
Gama resolveu estimular os integrantes do time com essas quantias. Para isso,
estabeleceu um incentivo monetário baseado nos números do jogo do bicho. O
número cinco, do cachorro, representava 5 mil reis de premiação por um empate.
O dez, do coelho, 10 mil reis por uma vitória qualquer. E o 25, da vaca, 25 mil
reis pela vitória em uma partida decisiva. Assim, a arrecadação do “bicho” dos
jogadores pelos torcedores ficou conhecida como “fazer uma vaquinha”.
Credita-se a expressão à moral de um
conto sobre um fato comum na época colonial do Brasil: o uso dos burros no
transporte de carga. O conto em questão narra a disputa de dois tropeiros para
ver quem chegava primeiro a um certo destino. Um deles usava o animal para
transportar sal, enquanto o outro transportava algodão. Diz a anedota que no
meio do caminho havia um rio e, ao tentarem atravessá-lo, ambos perderam as
cargas (o sal dissolveu-se e o algodão encharcou-se) e não conseguiram concluir
a missão. Por isso é que, quando alguém é mal sucedido em algo, usa-se a
expressão “dar com os burros n água”.
Sua mãe provavelmente ensinou a nunca
desdenhar daquilo que você recebe de presente. Se um dia você ganhar um cavalo,
por exemplo, nunca olhe a arcada dentária do animal na frente de quem te deu.
Isso porque os dentes do cavalo não nascem de uma vez, sendo que os últimos só
surgem no quarto ou quinto ano de vida do animal. Assim, olhar os dentes dele
significa verificar qual a idade do equino, o que pode ser bastante
deselegante. Na satírica visão de Mário Prata, no livro “Mas será o Benedito?”,
a expressão popular no entanto tem raiz histórica na avareza da família real
portuguesa. Ao chegar ao Brasil, Dom João VI teria usado cavalos em péssimo
estado como moeda de troca. E a quem reclamava ele usava a expressão “a cavalo
dado não se olham os dentes”.
09. Pagar o pato
Há duas explicações plausíveis para a
expressão, que significa que alguém está arcando com as consequências da ação
de outra pessoa. Uma delas está em “Facetiae”, do escritor italiano Giovanni
Bracciolini. Numa das historinhas narradas, uma mulher casada interessada em
comprar um pato de um vendedor propõe pagar pelo animal com favores sexuais. No
entanto, enquanto ela e o vendedor discutem se a quantidade de sexo feita já
era suficiente para quitar a dívida, chega o marido, que ludibriado pela
esposa, acaba pagando o pato em dinheiro. Outra versão para a origem da expressão
remete a uma antiga brincadeira que existia em Portugal. Nela
amarrava-se um pato a um poste e os competidores deveriam tentar pegar o animal
a cavalo soltando suas amarras em um só golpe. Quem perdia, pagava pelo pato
sacrificado.
10. Tirar o cavalo da chuva
Para boa parte dos pesquisadores, a
expressão surgiu de um costume da época em que o cavalo era o principal meio de
transporte no interior do país. Naqueles tempos, quando alguém ia fazer uma
breve visita a alguém, normalmente “estacionava” seu cavalo em frente a casa.
No entanto, se a conversa se alongava mais do que o esperado era comum o
anfitrião falar para o visitante ir “tirar o cavalo da chuva”, isto é,
abrigá-lo em um local protegido, pois a visita iria demorar mais do que o
imaginado. Com o passar do tempo, a expressão caiu no gosto popular. “Tirar o
cavalo da chuva” significa desistir de algo, perder as esperanças ou a
indicação de que alguma coisa vai demorar mais do que o previsto.
11, Fazer ouvidos de mercador
Orlando Neves, autor do Dicionário das
Origens das Frases Feitas, diz que a palavra mercador é uma corruptela de
marcador, nome que se dava ao carrasco que marcava os ladrões com ferro em
brasa, indiferente aos seus gritos de dor. No caso, fazer ouvidos de mercador é
uma alusão a atitude desse algoz, sempre surdo às súplicas de suas vítimas.
12. Santa do pau oco
Expressão que se refere à pessoa que
se faz de boazinha, mas não é. Nos século XVIII e XIX os contrabandistas de
ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por
dentro. O santo era “recheado” com preciosidades roubadas e enviado para
Portugal.
13. Mais vale um pássaro na mão que dois voando
Significa que é melhor ter pouco que
ambicionar muito e perder tudo. É tradição de antigos caçadores. Eles achavam
melhor apanhar logo a ave que tinham atingido de raspão, antes que ela fugisse,
do que tentar atirar nas que estavam voando e errar o alvo.
14. Aquela que matou o guarda
Tratava-se de uma mulher que
trabalhava para D. João VI e se chamava Canjebrina, que, como informam os
dicionários, significa pinga, cachaça. Ela teria matado um dos principais
guardas da corte do Rei. O fato não foi provado. Mas está no livro
“Inconfidências da Real Família no Brasil”, de Alberto Campos de Moraes.
15. Colocar panos quentes
Significa favorecer ou acobertar
coisa errada feita por outro. Em termos terapêuticos, colocar panos quentes é
uma receita, embora paliativa, prescrita pela medicina popular desde tempos
remotos. Recomenda-se sobretudo nos estados febris, pois a temperatura muito
elevada pode levar a convulsões e a problemas daí decorrentes. Nesses casos,
compressas de panos encharcados com água quente são um santo remédio. A sudorese
resultante faz baixar a febre.
16. Andar à toa
Toa é a corda com que uma embarcação
remboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo
para onde o navio que o reboca determinar. Uma mulher à toa, por exemplo, é
aquela que é comandada pelos outros. Jorge Ferreira de Vasconcelos já escrevia,
em 1619: Cuidou de levar à toa sua dama. Hoje, o ditado significa andar
sem destino, despreocupado, passando o tempo.
17. O pior cego é o que não quer ver
Em 1647, em Nimes, na França, na
universidade local, o doutor Vicent de Paul D’Argenrt fez o primeiro
transplante de córnea em um aldeão de nome Angel.
Foi um sucesso da medicina da época,
menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo
que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião
que arrancasse seus olhos.
O caso foi acabar no tribunal de
Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego
que não quis ver. Atualmente, o ditado se refere a a alguém que se nega a
admitir um fato verdadeiro.
18. De pá virada
Um sujeito da pá virada pode tanto
ser um aventureiro corajoso como um vadio.
A origem da palavra é em relação
ao instrumento, a pá. Quando ela está virada para baixo, é inútil não serve
para nada. Hoje em dia, “pá virada” tem outro sentido. Refere-se a uma pessoa
de maus instintos e criadora de casos ou a um aventureiro.
19. Deixar de Nhenhenhém
Conversa interminável em tom de
lamúria, irritante, monótona. Resmungo, rezinga. Nheë, em tupi, quer dizer falar.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação
estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.
20. Jurar de pés junto
A expressão surgiu das torturas
executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos
e os pés amarrados (juntos) e era torturado para confessar seus crimes.
21. Testa de ferro
O Duque Emanuele Filiberto di
Savoia, conhecido como Testa di Ferro, foi rei de Chipre e Jerusalém. Mas tinha
somente o título e nenhum poder verdadeiro. Daí a expressão ser atribuída a
alguém que aparece como responsável por um por um negócio ou empresa sem que o
seja efetivamente.
22. Erro crasso
Na Roma antiga havia o Triunvirato:
o poder dos generais era dividido por três pessoas. No primeiro destes
Triunviratos, tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido
de atacar um pequeno povo chamado Partos. Confiante na vitória, resolveu
abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar. Ainda
por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca visibilidade. Os Partos,
mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que
liderava as tropas um dos primeiros a cair. Desde então, sempre que alguém
tem tudo para acertar, mas comete um erro estúpido, dizemos tratar-se de um
“erro crasso“.
23. Passar a mão pela cabeça
Significa perdoar, e vem do costume
judaico de abençoar cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela
face, enquanto se pronuncia a bênção.
Muito bom, toda vez que leio, aprendo ou recordo alguma coisa.
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