sábado, 24 de outubro de 2015

Histórias de frases famosas

Deonísio Silva

A ocasião faz o ladrão.

Frase com certa sutileza malvada embutida. Dá conta implicitamente de que, havendo ocasião, surge inevitavelmente o ladrão. Diversos códigos penais basearam-se em tão triste concepção do gênero humano para vazar seus artigos. Segundo tal hipótese, o que garante não haver ladrões é um eficiente sistema de punição. Mas Machado de Assis (1839 − 1908), ainda que tão cínico e mordaz, corrigiu a máxima com muita propriedade para: “Não é a ocasião que faz o ladrão, o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”. Pensando bem, é quase pior.

Não perguntem o que a América fará por vocês.

Esta frase tornou-se famosa desde que o então presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy (1917 − 1963), a pronunciou em seu discurso de posse, proferido a 20 de janeiro de 1961. O discurso passou a ser muito citado em virtude desta e de outras frases, igualmente memoráveis, pinçadas pelos jornalistas na gigantesca cobertura da mais concorrida posse de um presidente americano. O jovem presidente, então com 45 anos, disse no mesmo discurso: “Não perguntem o que seu país pode fazer por vocês; perguntem o que vocês podem fazer por seu país”. Orador fascinante, de posições firmes em sua política interna e externa, Kennedy morreu assassinado em circunstâncias até hoje misteriosas.

A arte é uma mentira que revela uma verdade.

Frase atribuída a Pablo Ruiz Blasco Picasso (1881 − 1973), célebre pintor e escultor espanhol. Foi um dos mais talentosos artistas de sua época, com uma obra marcada por fases bem distintas: a época azul, o cubismo, o surrealismo, a arte abstrata e o expressionismo. Picasso influenciou consideravelmente a arte moderna. Algumas de suas obras são verdadeiros emblemas de nosso século, como o famoso quadro Guernica. Embora haja controvérsias nas interpretações, os críticos viram no famoso quadro sua inconformidade diante da destruição da cidade de mesmo nome, em 1937, pela aviação alemã, que apoiava as tropas do general Francisco Franco (1892 -1975) durante a Guerra Civil Espanhola.

À beça.

Significando em grande quantidade, a origem desta expressão é atribuída à profusão de argumentos utilizados pelo jurista sergipano Gumercindo Bessa ao enfrentar Rui Barbosa (1849 − 1923) em famosa disputa pela independência do então território do Acre, que seria incorporado ao Estado do Amazonas. Quem primeiro utilizou a expressão foi Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 - 1919), presidente do Brasil de 1902 a 1906, depois reeleito, mas sem poder assumir por motivos de saúde, admirado da eloquência de um cidadão ao expor suas ideias: “O senhor tem argumentos à Bessa”. Com o tempo, o sobrenome famoso perdeu a inicial maiúscula e os dois ‘esses’ foram substituídos pela letra ‘cê’.

A emenda saiu pior do que o soneto.

Querendo uma avaliação, certo candidato a escritor apresentou soneto de sua lavra ao poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 − 1805) pedindo-lhe que marcasse com cruzes os erros encontrados. O escritor leu tudo, mas não marcou cruz nenhuma, alegando que elas seriam tantas que a emenda ficaria ainda pior do que o soneto. A autoridade do mestre era incontestável. Bocage levou essa forma poética a tal perfeição que fazia o que bem queria com o soneto, tornando-se muito popular, principalmente em improvisos satíricos e espirituosos, pelo quais é conhecido.

A maioria dos homens se apaixona por Gilda,
mas acorda comigo.

Esta frase, dita pela primeira vez pela atriz americana Rita Hayworth (1917 − 1987), virou metáfora de relações amorosas baseadas na fantasia e que depois caem na real. Rita construiu uma imagem voluptuosa em seus filmes, sobretudo naqueles rodados na Segunda Guerra Mundial, que serviam de entretenimento aos soldados aliados. Deusa do amor nos anos 40, era suave, sensual e charmosa. Ótima dançarina e intérprete, a atriz encontrou boas razões para proferir a frase famosa. Seus casamentos não davam muito

A mulher é porta do diabo.

Esta famosa frase foi originalmente dita e escrita em latim – mulier janua Diaboli – por Santo Agostinho (354 − 430), bispo de Hipona, na África, doutor da Igreja e um dos pilares da teologia cristã e da filosofia ocidental. Antes de proferi-la, entretanto, levou vida amorosa das mais conturbadas, entregando-se a prazeres que depois condenou. Sua conversão é atribuída às orações de sua mãe, sobre quem escreveu um texto famoso, o Panegírico de Santa Mônica. Para um dialético como Agostinho, nada mais sintomático: sua salvação e perdição foram obras femininas. “A mulher é a porta de Deus” também poderia ser uma frase agostiniana.

A terra lhe seja leve.

Esta frase é a tradução perfeita da sentença latina Sit tibi terra levis, que os romanos inscreviam nos túmulos, às vezes apenas com as iniciais S.T.T.L., por considerarem que aos mortos tudo se deveria perdoar. Machado de Assis (1839 − 1908) faz pequena variação desta frase no romance Dom Casmurro, levando Bentinho, o marido de Capitu, a perdoar a mulher e o amigo Escobar, que conjuntamente o traíram. Apesar de todas as evidências, vários críticos insistem em ignorar um dos adultérios mais comprovados do mundo, o que fez o escritor Otto Lara Rezende (1922 − 1992), entre outros, publicar famoso artigo sobre o tema, vituperando a obtusidade. Que a terra seja leve também para os que interpretam textos de forma equivocada, às vezes até em livros ditos didáticos.

A vida é breve.

Esta frase constitui o primeiro dos célebres aforismos de Hipócrates (460 − 377 a.C.), que o escreveu originalmente em grego, precedido de outra frase; a arte é longa. Tem sido muito citada ao longo dos séculos, e o cantor e compositor Tom Jobim (1927 - 1994) foi um dos que a aproveitaram, inserindo-a nos versos de uma de suas famosas músicas, porém em ordem inversa para fazer a rima: “breve é a vida”. O pai da medicina, ainda praticando uma ciência, reconheceu ser a arte mais duradoura do que a vida, inaugurando assim a linhagem de médicos escritores, presentes em todas as literaturas do mundo, incluindo a brasileira, em que se destacam autores que exerceram a medicina como ofício principal.

A voz do dono.

Tornou-se célebre a figura de um cão ouvindo um fonógrafo, acompanhada desta expressão que foi utilizada por um fabricante de discos e de um aparelho destinado a reproduzir os sons gravados. A frase teria sido pronunciada pela primeira vez por Thomas More (1478 − 1535), depois transformando em santo, quando atuava como juiz de uma causa entre sua esposa e um mendigo. Lady More trouxera para cada casa um cachorrinho extraviado e um dia o mendigo apresentou-se como dono do animal. Querendo ser justo, o famoso humanista inglês pôs sua esposa num dos cantos de sala e o mendigo no outro, ordenando que cada qual chamasse ao mesmo tempo o cachorrinho, que estava no meio dos dois. Sem vacilar, o animal correu para o mendigo, reconhecendo a voz do dono. Para não deixar muito triste sua esposa, o marido pagou uma moeda de ouro pelo cãozinho.

A voz do povo é a voz de deus.

A expressão veio do latim vox populi, vox Dei, traduzida quase literalmente. Há milênios o povo simples considera que o julgamento popular é a voz de Deus. Tal crença tem raízes na cultura das mais diversas procedências. Tudo começou em Acaia, no Peloponeso, onde deus Hermes se manifestava em seu templo do seguinte modo: o consulente entrava, fazia a pergunta ao oráculo, depois do que tapava as orelhas com as mãos e saía do recinto. As palavras errantes ditas pelos primeiros transeuntes seriam as respostas divinas. Perguntava-se a um deus, mas era o povo quem respondia. No Brasil, um instituto de pesquisa de opinião pública chama-se Vox Populi e foi um dos primeiros a prever a vitória de Fernando Collor nas eleições presidências de 1989 por larga margem. Curiosamente, não previu seu afastamento. Teria faltado a vox Dei?

Assim é, se lhe parece.

 Frase de autoria do célebre escritor italiano, prêmio Nobel de literatura em 1934, Luigi Pirandello (1867 − 1936), autor de contos, romances e peças de teatro. Algumas de suas obras foram transpostas para o cinema. Seus livros mais conhecidos são O falecido Matias Pascal, Seis personagens à procura de um autor e Assim é, se lhe parece, comédia em três atos que discute a busca da verdade. Dois dos principais personagens, o senhor e a senhora Ponza, por meio de diálogos, apresentam um espelho da vida provinciana, no estilo habitual do autor, marcado por fina ironia, grande dose de sarcasmo, mas também grande compaixão humana. A frase passou a ser usada para encerrar uma discussão.

Até que a morte os separe.

A história desta frase prende-se às cerimônias dos casamentos, principalmente dos ritos cristãos, que concebem os laços do matrimônio como indissolúveis. Está presente em numerosas narrativas, sejam contos, novelas, romances ou poesias. Integra também a ensaística que trata das relações entre marido e mulher na estrutura familiar. Um de seus mais antigos registros foi feito pelo apóstolo São Paulo (10 − 67) em sua Primeira Epístola aos Coríntios, em que se esforça para demonstrar aos leitores e ouvintes daquela famosa carta que os laços que unem homem e mulher no casamento foram instituídos, não pelos homens, mas por Deus, ainda no paraíso.

Cada povo tem o governo que merece.

Esta frase é proferida quando se quer falar mal do governo, atribuindo-se ao povo a má escolha. É de autoria do filósofo francês Joseph De Maistre (1753 − 1821), crítico da Revolução Francesa, inimigo das repúblicas e defensor das monarquias e do papa. Apesar de a frase ter servido sempre para vituperar todos os governos, os alvos preferidos são aqueles escolhidos por voto popular. Porém, nada se diz quando os eleitores mostram sabedoria nas votações. Assim, contrariando a máxima popular, o filho feio sempre tem por pai o próprio povo. No fundo, a crítica não é aos maus governos, mas aos responsáveis por sua elevação aos cargos.

Com uma mão se lava a outra.

Esta frase resume preceitos de solidariedade, dando conta de que as ajudas devem ser mútuas. Foi originalmente registrada no parágrafo 45 do romance Satyricon, do escritor latino Tito Petrônio Arbiter (século primeiro a.C.), transposto para o cinema pelo famoso cineasta italiano Federico Fellini (1920 − 1994). Em síntese, o romance narra a história de um triângulo amoroso, envolvendo dois rapazes apaixonados por um terceiro, mas livro e filme põem em relevo a decadência dos costumes políticos. Tanto o romancista como o diretor criticam duramente a civilização ocidental, apesar dos 20 séculos que os separam, onde o que mais falta é justamente a solidariedade.

De boas intenções o inferno está cheio.

Esta frase é de autoria de um famoso teólogo e santo francês, São Bernardo de Clairvaux (1090 − 1153). Muito místico, travou grandes polêmicas com o célebre namorado de Heloísa, o também teólogo e filósofo escolástico Pedro Abelardo (1079 − 1142). Conselheiro de reis e papas, São Bernardo pregou a Segunda Cruzada, destacando-se no combate àqueles que eram considerados hereges pó ousarem interpretar de modos plurais a ortodoxia católica. A frase foi brandida, não apenas contra seus desafetos, mas também a seus aliados, e tornou-se proverbial para denunciar que as boas intenções, além de não serem suficientes, podem levar a fins contrários aos esperados.

Deus me defenda dos amigos,
que dos inimigos me defendo eu.

Frase atribuída ao escritor e filósofo francês Voltaire, pseudônimo de François Marie Arquet. Teve desempenho brilhante nas célebres polêmicas do Século das Luzes, com suas idéias claras, temperadas por cáustica ironia, arma verbal que lhe rendeu muitos inimigos entre os obscurantistas, sendo obrigado a retirar-se de Paris após a publicação de seu livro Cartas Filosóficas, em 1734. Foi, porém, apoiado e acolhido pela escritora Madame de Châtelet (1706 − 1749), sua inspiradora e amiga, da qual Deus não precisou defendê-lo.

É de tirar o chapéu.

Foi no reinado de Luís XIV, o Rei Sol, que a França disciplinou as saudações feitas com o chapéu. O costume vinha dos tempos da mais parda das eminências, o cardeal Richelieu, à época de Luís XIII. Os cumprimentos podiam ser feitos com um toque na aba; erguendo-o um pouco, sem retirá-lo da cabeça; tirando-o inteiramente ou fazendo-o roçar o chão, quase como uma vassoura, tudo dependendo da importância social de quem era saudado. Como se sabe, os Luíses XIII e XIV foram reis que se preocuparam muito com chapéus. Logo depois, um dos mais famosos da seqüência, Luís XVI, perdeu muito mais do que o chapéu: a própria cabeça, na Revolução Francesa.

É do tempo do onça.

Foi governador do Rio de Janeiro, de 1725 a 1732, o capitão Luís Vahia Monteiro, apelidado Onça. Em carta que escreveu ao rei Dom João VI, declarou: “Nesta terra todos roubam, só eu não roubo.”. A frase acima foi sempre utilizada para aludir a coisas muito antigas, vigentes naquele tempo. Entretanto, outras autoridades, com o mesmo apelido, podem ter fomentado ainda mais a expressão, homenageando a energia, a coragem e a honestidade do antigo governante. Os novos tempos, infelizmente, não tornaram exceção aquilo que era norma nas práticas dos governantes no tempo do Onça. O pobre homem, a deduzir por sua carta ao rei português, comportava-se como uma virgem num bordel.

É mais fácil enganar a multidão do que um homem só.

Esta frase, de proverbial sabedoria, foi escrita por Heródoto (484 − 420 a.C.), o Pai da História. Poucos historiadores modernos têm a graça de seu estilo, marcado pelos relatos de acontecimentos e lendas que põem em contraste a civilização grega e os bárbaros – egípcios, medos e persas. A frase deve ter-lhe brotado das muitas observações que fez entre esses povos, constatando como os grandes generais, usando a espada e a retórica, submetiam cidades inteiras, mas expunham sua fraqueza num simples diálogo com um filósofo.

Eles que são brancos, que se entendam.

A origem desta frase remonta a uma das primeiras punições que o racismo sofreu no Brasil, ainda no século XVIII. Um capitão do regimento dos pardos queixou-se a seu superior, um português, solicitando punição a um soldado que o desrespeitara. Ouviu em resposta: “vocês que são pardos, que se entendam”. O capitão, inconformado, recorreu à instância superior, o décimo segundo vice-rei do Brasil, Dom Luís de Vasconcelos (1742 − 1807). Este, depois de confirmar o ocorrido, mandou prender o oficial português, que estranhou: “Preso, eu? E por quê? Nós somos brancos, cá nos entendemos”, respondeu o vice-rei. Desde então, tornou-se frase feita, dita de outra forma pelo povo. E está registrada em Locuções tradicionais do Brasil, de Luís da Câmara Cascudo (1898 − 1986).

Ler nas entrelinhas.

Esta frase dá conta de uma das muitas sutilezas da escrita, indicando que num texto até o que não está escrito deve ser lido, pois o sentido vai muito além das palavras, situando-se no contexto, para que não perca o espírito da coisa, expressão criada para identificar uma lacuna de interpretação. Entre os que primeiro registraram a frase está o escritor francês Charles Augustin Saint-Beuve (1804 − 1869) que, depois de publicar vários poemas e apenas um romance, dedicou-se inteiramente à critica literária, gênero em que se consagrou como um dos maiores de todos os tempos, lendo nas entrelinhas os autores que comentou.

Libertas quae sera tamen.

Os escritores envolvidos no primeiro projeto de Independência do Brasil, a Inconfidência Mineira, em 1792, três anos depois da Revolução Francesa, cunharam o lema Libertas quae sera tamen, tirado de um verso da Primeira Égloga, do poeta latino Virgílio: Libertas quae tamen respexit inertem (a liberdade que tardia, todavia, apiedou-se de mim em minha inércia. O lema, como foi adaptado, é esdrúxulo: a liberdade que tardia, todavia... sic). Para o que queriam os inconfidentes, bastava Libertas quae sera. Ainda assim, o lema, com este erro de transcrição e de tradução, continua nas bandeiras de Minas Gerais e do Acre.

Mateus, primeiro aos teus.

Esta frase, mandando aos importunos e chatos que se ocupem primeiro de suas próprias coisas, para só depois nos amolar a paciência, tem sua origem nos Evangelhos. Mateus, antes de tornar-se discípulo de Jesus, era odiado por ser cobrador de impostos de Cafarnaum. A profissão já era hostilizada naquele tempo, e o povo abominava esses funcionários do fisco romano que, conquanto judeus, serviam aos dominadores estrangeiros, além de extorquir taxas pessoais dos contribuintes. Na literatura oral de quase todos os países está fixada esta repulsa, depois recolhida por escritores, como nos versos de uma sátira de Gustavo Barroso (1888 − 1959) no livro Ao som da viola, dando conta de que na vida eterna eles serão condenados.

Noblesse oblige.

Esta frase, nascida de um trecho do filósofo, estadista e poeta latino Anício Mânlio Severino Boethius (480 − 524), mas conhecido como Boécio, está presente em muitas línguas, incluindo a portuguesa, segundo a síntese elaborada pelos franceses, sem alteração da grafia e do significado: nobreza obriga, isto é, aristocracia e a boa educação devem levar o indivíduo a comportar-se como um cavalheiro. Se não a primeira, a segunda. Originalmente, a frase foi escrita em latim e está embutida num período mais longo, usual no estilo de Bécio, de seu livro O consolo da filosofia.

O coração tem razões que a razão desconhece.

A história desta frase não poderia ter origem mais paradoxal, pois foi proferida e escrita por um personagem que deu grande valor à ciência, o célebre matemático, físico, filósofo e escritor francês Blaise Pascal (1623 − 1662). Aos 16 anos já tinha escrito um ensaio científico e aos 18 inventou uma máquina de calcular, base de nossos atuais computadores. Depois que sua irmã Jacqueline entrou para o convento, Pascal retirou-se para a célebre localidade de Port Royal-des-Champs, que deu nome a uma escola de pensadores, e passou a escrever artigos contra os jesuítas. Cuidadoso com a língua francesa, escreveu sempre em estilo irrepreensível. A frase dá grande valor à intuição.

É um nó górdio.

Quando se quer referir-se a uma extraordinária dificuldade em determinada questão, diz-se que se trata nó górdio do assunto. A história desta frase remonta aos tempos de Alexandre, o Grande (356 − 323 a.C.), senhor de um império que incluía quase o mundo inteiro. Segundo a lenda, quem desatasse o nó com que estava atada a canga ao cabeçalho de um carro feito por um camponês frígio dominaria o Oriente. O carro estava no templo de Zeus. Do nó, feito com perfeição, não se viam as portas. Alexandre tentou desamarrar e, não conseguindo, cortou-o com a espada. E desde então esse gesto tem servido de metáfora para designar ações ousadas para resolver problemas.

O homem põe, mas deus dispõe.

Esta frase, tão citada como provérbio, deve sua fama ao enorme sucesso do livro A imitação de Cristo, um best-seller que está na lista dos mais vendidos e, neste caso, também dos mais lidos, há vários séculos. Publicado pela primeira vez em 1441 e só perdendo em traduções para a Bíblia, é de autoria do escritor e asceta alemão Tomás de Kempis, que viveu no século XV. A frase significa que, por mais que o homem planeje meticulosamente sua vida, algo de imponderável pode acontecer e deve ser creditado à intervenção divina. Com o passar dos anos outras variações foram surgindo e uma da mais comuns, no Brasil, é Deus não joga, mas fiscaliza.

Olho por olho, dente por dente.

Esta frase, que consagra a vingança como preceito jurídico, está inscrita num dos 282 artigos do Código de Hamurabi (1792 − 1750 a.C.), o criador do Império Babilônico. Em 1901, arqueólogos franceses descobriram, em território hoje pertencente ao Irã, uma estrela cilíndrica de diorito onde está gravado este célebre conjunto de leis, um dos mais antigos de que se tem notícia. Baseado na lei de talião, presente também num dos livros da Bíblia, o Levítico, prescreve para o transgressor pena igual ao crime que praticou. Ainda é aplicado em várias sociedades do Oriente.

Os fins justificam os meios.

A ideia de que não importa que os meios sejam ilícitos quando os fins são nobres consolidou-se nesta frase, atribuída, entre outros, aos jesuítas e aos autores italianos Niccolò Machiavelli (1469 − 1527) e Francesco Guicciardini (1483 − 1540), dois filósofos que se preocuparam com o poder e a ética dos governadores, o último dos quais é autor das célebres Ricordi  – em italiano, advertências, conselhos – somente agora traduzidas para o português com o título de Reflexões, mais de acordo com os temas do livro.



4 comentários:

  1. Gumercindo Bessa era Sergipano, da cidade de Estância. E não alagoano.

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  2. Obrigado, Natalie, pela observação. Já foi feita a devida correção. Abraços, Nilo.

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  3. Machado de Assis está absolutamente certo. Na maioria dos casos, o ladrão "nasce feito". Enrico Ferri, respondeu a Alexandre Lacasagne que, embora até os micróbios carecem de um meio para replicar-se, não existe micróbio que surja por geração espontânea. Psicopatas constituem a quase totalidade dos criminosos reincidentes. Inclinações herdadas são, com toda a certeza, a causa principal da criminalidade. Não se contam nesse rol os criminosos de ocasião.

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  4. Machado de Assis, mesmo sendo um escritor, tinha uma visão clara de todos os assuntos, quer jurídicos ou de caráter psicológico.

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