Ousarme Citoaian
Algum escritor (ou, para ser justo
na provocação, algum profissional) é insensível ao elogio? Provavelmente não,
mas alguns disfarçam bem essa humana fraqueza. Parece que tudo se resolve se
tratarmos o assunto com certa dignidade, sem entregar o jogo, desfazendo-se em
felicidade a propósito de qualquer referência encomiástica, feito donzela
pudica que se ruboriza diante de um galanteio oblíquo. Quando Machado de Assis disse,
a propósito da Academia, “Esta é a glória que fica, eleva, honra e consola”,
denotou certo pendor para a vaidade. Mas, anos antes, ele foi mais específico:
“Amo elogios. Eles fazem bem à alma e ao corpo”.
“Um elogiozinho, pelo amor de deus”
Na crônica “Tudo são vaidades”
Fernando Sabino fala de um intelectual que vivia de chapéu na mão, dizendo: “Um
elogiozinho, pelo amor de Deus…”. Seria Jorge de Lima (foto) e a história foi
uma maldade criada pelo genial Nelson Rodrigues: numa cafeteria, o poeta viu
Clarice Lispector, aproximou-se dela e se apresentou: “Sou o poeta Jorge de
Lima”, ficando à espera de algum elogio, que não veio. Clarice não tugiu nem
mugiu e o escritor alagoano afastou-se tristonho, cabisbaixo, à beira da
depressão. Dê-se à história o desconto de ser da lavra de Nelson Rodrigues, um
autor que se valia, como poucos, do exagero.
Mário e as suas “vaidades justificáveis”
Se o taciturno e contido Machado
amava o elogio, Mário de Andrade (foto) não lhe ficou atrás, ao dizer que “são
justificáveis certas vaidades, quando nascidas de um sadio desejo de ver o
valor de sua obra reconhecido e aclamado”. No popular, circunlóquios à parte,
vaidoso. Conta-se que Cyro dos Anjos, a exemplo do autor de Dom Casmurro,
preferiu ser direto. Quando lhe perguntaram por que entrou para a ABL,
respondeu: “Vaidade”. Se não estou enganado, é Marques Rebelo (citado por Hélio
Pólvora) quem tem a receita para suprir a necessidade de elogios: “A única
crítica que realmente interessa é a dos amigos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário